sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Petrobras para obras e ameaça reter dividendos

Perda maior e obras paradas

• Petrobras admite que pode haver mais ajustes, além dos R$ 88 bi. Abreu e Lima será afetada

Ramona Ordoñez, Bruno Rosa – O Globo

Escândalos em série

RIO E SÃO PAULO - Os recursos desviados no gigantesco esquema de corrupção, principalmente no período de janeiro de 2004 a abril de 2012, descoberto pela Operação Lava-Jato da Polícia Federal poderão ser ainda maiores do que o previsto. Anteontem, a estatal estimou em R$ 88,6 bilhões as possíveis perdas em 31 ativos que incluem, além do pagamento de propinas, fatores como ineficiência em projetos e variação cambial. Segundo a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, os valores estão sendo calculados com base nos depoimentos no âmbito da delação premiada feitos até o momento à Justiça pelo ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa e por executivos de empreiteiras. Dos ativos superavaliados, 94% estão na diretoria de Abastecimento, área que era comandada por Costa e que sofrerá grandes cortes de investimentos, como o Comperj, no Rio, e a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.

- Novas informações oriundas das investigações em curso podem resultar em novos ajustes, em ampliação do escopo dos contratos de empresas e também podem resultar em modificações no período de análise. Foram avaliados 52 ativos de R$ 188,4 bilhões, com base nas 23 empresas que foram citadas pela Operação Lava-Jato. Se tivermos mais depoimentos em que surjam outras empresas, temos que buscar abrir mais esse número. Esse número cresce. Esse número não posso dizer que é firme. Cresce o número de empresa, e pode crescer esse valor - afirmou Graça.

Exploração de petróleo será reduzida ao mínimo
A executiva destacou ainda que haverá redução nos investimentos em 2016 e retração nas metas de produção para os próximos anos. Por isso, afirmou que só vai anunciar o Plano de Negócios 2015-2019 no fim do semestre. Segundo ela, haverá "revisão do crescimento da Petrobras nos próximos anos".

- Haverá redução no ritmo de projetos que trazem pouca ou nenhuma contribuição para o caixa deste ano e de 2016. Nas áreas de abastecimento, estamos diminuindo a velocidade de investimento do Comperj e toda sua infraestrutura. Em Gás e Energia, estamos com a fábrica de fertilizantes (em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul) parada no momento. Na Exploração & Produção (E&P), haverá a revisão da carteira exploratória ao mínimo necessário. A essência do Plano 2015-2019 é evitar contratar novas e mais dívidas para atender a toda demanda dos investimentos que tínhamos.

O diretor de Abastecimento, José Cosenza, disse ainda que, em função da reavaliação dos contratos das empresa envolvidas no Lava-Jato, os investimentos em Abreu e Lima estão sendo estudados, como a suspensão da segunda unidade de refino com capacidade para processar 115 mil barris de petróleo por dia e prevista para maio:

- Não temos uma nova data de partida para o segundo trem (etapa) do Rnest (Abreu e Lima).

Comperj tem valor zero, diz Graça
Graça frisou que ativos terão baixa se for preciso. A companhia informou que o Comperj, por exemplo, tem valor zero se vendido hoje.

- Se necessário, vamos dar baixa, sim, nos ativos em que acharmos que é correto fazer. Os R$ 88,6 bilhões são os grandes projetos que estão sendo questionados internamente. Não sei o que pode vir pela frente.

Já o diretor de Exploração e Produção, José Formigli, destacou que é fundamental cumprir a meta de produção deste ano, de 2,125 milhões de barris por dia - uma alta de 4,5% em relação ao ano passado - para que a companhia tenha uma previsibilidade para o financiamento.

- Foi (a meta de produção) que fizemos com o maior grau de realismo nos últimos anos. É uma meta que garante um fluxo financeiro que suporta a projeção que a empresa precisa ter para sua financiabilidade. Em 2015, temos paradas programadas que somam 50 mil barris por dia, maior que no ano passado, que foi de 30 mil barris por dia em média de parada programada.

Graça destacou que não fará captações externas e que iniciou o ano de 2015 com saldo em caixa de US$ 25 bilhões. Lembrou ainda que venderá ativos somente no fim do ano. Sua meta é vender cerca de US$ 3 bilhões.

- A sua capacidade de geração operacional de caixa não é afetada por ajustes decorrentes da corrupção ou de qualquer outro relacionado ao valor de seus ativos - disse Graça.

Durante a divulgação de resultados do banco, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, disse que o problema da Petrobras não é "trivial" e que há "um momento de desconforto com a maior empresa brasileira".

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