sábado, 31 de janeiro de 2015

Traições nos partidos devem definir disputa na Câmara

• Com voto secreto, acertos feitos pelas cúpulas das legendas estão sob ameaça

• São esperadas infidelidades contra Cunha e Chinaglia até dentro de suas siglas, o PT e o PMDB

Márcio Falcão, Ranier Bragon, Catia Seabra – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A dois dias da eleição para a presidência da Câmara, partidos intensificaram nesta sexta-feira (30) acordos com as três principais campanhas, de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG), mas os acertos estão sob ameaça de não serem cumpridos pelos deputados.

Mesmo com a pressão das direções partidárias, há promessas de traições nas bancadas do PSDB, PT, PMDB, PTB, PSD, PDT, PRB, PSB e PV, pelo menos.

A votação deste domingo (1º) é secreta, o que dá mais liberdade aos parlamentares, e irá definir quem comandará a Câmara em 2015 e 2016.

Cunha é apontado como favorito, mas apesar de ser de uma legenda governista, enfrenta resistência do Planalto, que não o considera confiável e, por isso, trabalha para eleger Chinaglia.

A contabilidade oficial de apoio partidário mostra cerca de 180 votos para Cunha, 150 para Chinaglia e 100 para Delgado. Mas o voto secreto torna esses números pouco confiáveis.

Considerado "azarão", Júlio Delgado iria formalizar nesta sexta seu bloco de apoio, mas foi forçado a adiar o ato porque ainda faltava o aval de quatro deputados do PPS.

Delgado, no entanto, conseguiu evitar o esvaziamento de sua candidatura, assegurando o apoio formal do PSDB, o maior partido de oposição no Congresso.

O presidente dos tucanos, senador Aécio Neves (MG), impediu uma debandada formal da legenda para a campanha de Cunha. Aécio pressionou os deputados a permanecer com Delgado porque teme que o PSB, que rompeu em 2013 aliança histórica com o PT, voltasse a se aliar com o governo.

De volta à cena política de visual repaginado, exibindo uma barba, Aécio negou traições tucanas. Mas aliados apontam que uma boa parte da bancada votará em Cunha. Dos 54 parlamentares, 37 teriam demonstrado disposição para voto no peemedebista. Júlio também deve perder votos no PSB e no PV.

Contra Cunha, são esperadas infidelidades no próprio PMDB, além do PRB e PTB, que contam com ministérios. Com 21 deputados, o PRB fechou aliança com Cunha antes de conquistar o Ministério do Esporte. O ministro Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), do PTB, apoia Chinaglia.

Pressionado pelo governo, o PP pode confirmar neste sábado alinhamento ao PMDB. O anúncio tem sido adiado para evitar mais pressões do governo, que tem sinalizado oferta de cargos à legenda.

Rejeitando o título de candidato do Planalto, Chinaglia ganhou o apoio do PDT. No PSD, a bancada do Rio disse que foi liberada pelo ministro Gilberto Kassab (Cidades), um sinal para o PMDB.

O petista deve trazer o PR para seu bloco parlamentar, mas quase metade dos deputados deve optar pelo PMDB no voto secreto. A campanha do petista também já mapeou traições no próprio PT.

Dos 69 deputados, são esperados sete votos nos adversários de Chinaglia. A bancada petista divulgou nota negando com "veemência" a insinuação de que haverá traições ao petista.

"O Partido dos Trabalhadores construiu a unidade em torno da candidatura do deputado Arlindo Chinaglia e votará de forma unificada (...) Ademais, a capacidade e a seriedade de Chinaglia são reconhecidas por todos os seus pares", diz o texto.

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