quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A propina fantasiada de doação para o PT

• Em meio à crise envolvendo a demissão de Graça Foster em Brasília, recibos em poder da Polícia Federal em Curitiba comprovariam suborno pago a diretório do partido a mando de ex-diretor da Petrobras

- Correio Braziliense

O executivo da Toyo Setal Augusto Ribeiro de Mendonça Neto entregou à Polícia Federal documentos que, segundo ele, comprovam que pagou propinas sob a forma de doações eleitorais oficiais para o Partido dos Trabalhadores. Segundo ele, o ex-diretor de Engenharia da Petrobras Renato Duque ordenou que os valores fossem pagos em troca dos contratos que a construtora obteve com a estatal. Nesta terça-feira (3), a presidente Dilma Rousseff se reuniu com a comandante da Petrobras, Graça Foster, para discutir mudanças na direção da empresa. Entre as causas da demissão está a controvérsia sobre a divulgação das perdas da Petrobras com as denúncias de corrupção.

Em Curitiba, o executivo Mendonça relacionou 34 páginas de recibos do PT e transferências bancárias com 29 doações eleitorais ao partido entre 2008 e 2012. Ao todo elas somam R$ 4,26 milhões, sendo quase 80% em 2010 e 2011, após as eleições em que Dilma Rousseff foi eleita presidente pela primeira vez. Os pagamentos foram feitos por meio de três empresas ligadas à empreiteira e ao próprio executivo.

A maioria dos comprovantes se refere a financiamento para o Diretório Nacional do PT. Porém, em 8 de março de 2012, meses antes das eleições municipais, o diretório municipal de São Paulo recebeu R$ 250 mil da Setal Óleo e Gás. Naquele ano, o prefeito Fernando Haddad conseguiu se eleger na maior cidade do país.

Em 23 de outubro de 2008, dias após o primeiro turno das eleições municipais, foi feita uma doação de R$ 100 mil do caixa da empresa Setec, do grupo da Setal. O destino foi o diretório petista da Bahia. Naquele ano, o candidato a prefeito da capital do PT era o senador Walter Pinheiro, que chegou ao segundo turno, mas não venceu a disputa.

Em 12 de dezembro de 2011, meses antes das disputas municipais, o diretório municipal de Porto Alegre recebeu R$ 250 mil da SOG. Nas eleições seguintes, o candidato dos petistas foi Adão Villaverde, que não se elegeu. Como mostrou o Correio ontem, Mendonça apresentou contratos que, segundo ele, mascaravam o envio de subornos para envolvidos no esquema de desvio de dinheiro.

“Preconceito”
A assessoria do Partido dos Trabalhadores afirmou ao Correio que não comentará o assunto. A reportagem questionou quais são os controles que a legenda eventualmente utiliza para saber se o dinheiro que recebe é lícito, mas também não houve resposta.

O advogado de Renato Duque afirmou ao jornal que as acusações não procedem: “Renato Duque considera isso uma grande inverdade”, disse seu defensor, Renato Ribeiro de Moraes. Segundo Moraes, Duque e Mendonça só tinham relacionamento profissional e jamais houve qualquer conversa com o executivo da Toyo Setal ou qualquer outra pessoa sobre doações a partidos políticos. “Nunca houve qualquer interferência de Renato Duque para campanhas, para propinas e para contratos simulados”, disse o advogado.

Segundo Moraes, há um “interesse” dos procuradores e delegados da Operação Lava-Jato em envolver Duque e, para “agradar” os investigadores e obter benefícios de redução de pena, Mendonça cria “fatos não verdadeiros”. “É um interesse político. Na ótica dos investigadores, Duque representa o braço do PT na Petrobras, essa ideia preconceituosa.” O advogado garante que seu cliente não foi indicado por partido algum para o cargo e que ele trabalhou lá exclusivamente por seu mérito.

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