terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Governo indica que dará cargos ao PMDB para aprovar pacote fiscal

• Em jantar com peemedebistas, titular da Fazenda disse que economia precisa de correção de rumo

• Mobilização do Planalto pelo ajuste fiscal é motivada pela resistência de aliados e das centrais sindicais

Márcio Falcão, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Após amargar derrotas no Legislativo nas últimas semanas, o Palácio do Planalto sinalizou nesta segunda (23) que está disposto a fazer concessões ao PMDB para aprovar no Congresso o ajuste fiscal com mudanças em leis trabalhistas e previdenciárias.

O governo indicou que pretende contemplar seu principal aliado com nomeações nos cargos de segundo escalão e conferir mais peso à sigla nas decisões do governo.

A ofensiva em busca de apoio para o pacote fiscal começou com um almoço entre o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), desafeto de Dilma.

No encontro com Cunha, segundo a Folha apurou, Mercadante perguntou sobre o segundo escalão. O presidente da Câmara disse que o vice-presidente, Michel Temer, é quem iria coordenar tratativas sobre o assunto.

A lista de desejos do PMDB e outros aliados inclui as diretorias do setor elétrico, como Eletrobras e Furnas.

Mercadante foi o primeiro emissário da presidente Dilma Rousseff a buscar uma articulação direta com Cunha, que derrotou o candidato do PT, Arlindo Chinaglia, na eleição à presidência da Casa.

A tentativa de aproximar o Planalto de Cunha ocorre após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aconselhar Dilma a apaziguar a relação com o presidente da Câmara sobretudo em meio à tarefa de aprovar o ajuste fiscal.

Em outro aceno ao partido, os ministros Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e Tombini (Banco Central) passaram quase três horas tratando do pacote em jantar com peemedebistas promovido por Temer na noite desta segunda.

Defesa do ajuste
No encontro com o PMDB, o ministro da Fazenda saiu em defesa do ajuste alegando que a economia brasileira precisa de uma correção de rumo, especialmente para corrigir alguns pontos da política anticíclica do primeiro mandato de Dilma, que teria afetado as contas públicas e arranhado a credibilidade do país. Ele argumentou ainda que o cenário internacional mostra que países que não passaram por adequações semelhantes foram levados a crises.

A mobilização dos assessores de Dilma pelo ajuste fiscal é motivada pela resistência das centrais sindicais e dos governistas às medidas.

O Planalto quer preservar a essência do pacote que muda regras para concessão de seguro-desemprego, abono salarial, pensão por morte e seguro-defeso para pescadores artesanais. A economia será de R$ 18 bilhões neste ano.

Segundo relatos, no jantar, senadores reclamaram de falta de espaço no governo para participarem das definições das políticas. A crítica teria sido referendada por Cunha. Participantes disseram ainda que o presidente da Câmara teria afirmado que as medidas de ajuste são necessárias e que ele não iria se opor a elas.

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