domingo, 1 de fevereiro de 2015

Luiz Carlos Azedo - Blindagem da velha política

• O Palácio do Planalto vê o controle do Congresso como uma questão de vida ou morte, quer impedir a instalação de uma nova CPI da Petrobras e o agravamento da crise

Correio Braziliense

O Congresso reabre hoje diante de uma encruzilhada: escolher entre a pequena e a grande política. A primeira, pautada pelos interesses corporativos e fisiológico de deputados e senadores, resultou no desgaste do parlamento, dos partidos e dos políticos de modo geral. Caracteriza-se pela entrega ao Executivo do monopólio da iniciativa em relação aos grandes temas nacionais e do Estado.

A grande política, porém, pede passagem aos novos deputados e senadores. É aquela que trata dos grandes interesses nacionais — da crise dos recursos hídricos à vigilância de fronteiras, da gestão da Petrobras à reforma política — e vê no bem comum, e não apenas nas benesses do governo e nos negócios, o caminho para a renovação dos partidos e de fortalecimento do Congresso. Não é à toa que a disputa pelo comando das duas Casas está acirrada.

No Senado, contra o favoritismo do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que tenta mais uma reeleição, insurge-se a candidatura de um dissidente de sua própria bancada, o senador Luiz Henrique (SC), ex-presidente do PMDB e ex-governador de Santa Catarina. A disputa pode ser dura, pois rachou a base do governo e mobiliza a oposição. Calheiros é governista de carteirinha; Luiz Henrique promete uma atuação independente.

Na Câmara, tudo indica que o pleito se decidirá no segundo turno. O favorito continua sendo o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que representa o segundo maior partido governista — o maior é o PT. Enfrenta, porém, a oposição do Palácio do Planalto, que cacifa a candidatura de Arlindo Chinaglia (PT-SP), ex-presidente da Casa e ex-líder do governo. A oposição disputa uma vaga no segundo turno para o candidato do PSB, Julio Delgado (MG), que tem o apoio do PSDB e do PPS. O deputado Chico Alencar (PSol-RJ) apenas marca posição.

As duas eleições se realizam à sombra das denúncias de envolvimento de número expressivo de parlamentares no escândalo da Petrobras, que está sendo investigado pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. O estresse entre as principais lideranças do Congresso é ainda maior porque circula a informação de que um dos empresários presos, o ex-presidente da UTC Ricardo Pessoa, apontado como coordenador do cartel de empreiteiras responsáveis por desvios bilionários da estatal, estaria colaborando com as investigações e pode ampliar o número de políticos envolvidos.

A versão é corroborada pelo fato de a Polícia Federal abrir novos inquéritos para investigar mais 10 empresas suspeitas de envolvimento no escândalo, entre elas a Andrade Gutierrez e a GDK. A Polícia Federal também pediu à presidente da Petrobras, Graça Foster, que envie detalhes sobre contratos com as construtoras OAS e Odebrecht na refinaria Abreu e Lima. Essas empreiteiras fazem parte do rol de grandes financiadores das campanhas eleitorais.

Acordão
O Palácio do Planalto faz fortes gestões para circunscrever o escândalo da Petrobras aos ex-diretores da estatal e executivos envolvidos e salvar as empresas denunciadas. Apoia um acordão entre elas e o Ministério Público Federal, com a chancela do Supremo Tribunal Federal (STF), para impedir a quebra do setor da construção pesada. Apenas quatro empresas envolvidas na Lava-Jato têm 70% dos contratos firmados com o governo federal, o que confirma a cartelização do setor e a existência de relações privilegiadas.

A tramitação do processo na Justiça deve ganhar velocidade a partir de amanhã. O ministro Teori Zavascki examinará o trabalho dos procuradores e policiais e abrirá prazo para a defesa prévia dos acusados. Advogados dos executivos presos manobram para impedir que seus clientes sejam julgados pelo juiz federal Sérgio Moro, em primeira instância, em Curitiba. Querem vincular esses acusados aos políticos e levar os respectivos processos para o STF.

O escândalo da Lava-Jato ronda a disputa pelo comando do Senado e da Câmara. O Palácio do Planalto vê o controle das duas casas como uma questão de vida ou morte, quer impedir a instalação de uma nova CPI da Petrobras e o agravamento da crise. Por isso, a vitória de Arlindo Chinaglia é considerada tão importante pela presidente Dilma Rousseff, que não confia no líder do PMDB, Eduardo Cunha. No Senado, a candidatura de Luiz Henrique foi estimulada pelo Palácio do Planalto, mas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em campo para garantir o apoio do PT a Calheiros, pelos mesmos motivos.

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