quinta-feira, 12 de março de 2015

Celso Ming - O frenesi das moedas

- O Estado de S. Paulo

Os dois maiores bancos centrais começam a operar em direções opostas. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) prepara-se para remover uma montanha de dólares do mercado. Enquanto isso, o Banco Central Europeu (BCE) começou a injetar outra montanha, no seu caso, de euros.

A lagoa do mercado enfrenta vagalhões enormes provocados por esse jogo pesado. O dólar já começou a se valorizar em relação a quase todas as moedas. O euro, ao contrário, vai encolhendo. Perdeu 12,8% desde o início de 2015. Vale agora 1,05 por dólar. No início de sua circulação, em 1999, o euro equivalia a 1,16 dólar. A perspectiva da paridade 1 por 1 está logo aí.

O Fed prepara-se para reverter a operação de afrouxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) que, desde 2008, despejou US$ 3,5 trilhões na economia por meio da compra de títulos públicos e privados no mercado. O objetivo foi induzir à recuperação.

Para o dia 18 espera-se que o Fed emita a senha para o início dessa operação de retirada de moeda. É que, há alguns meses, a presidente Janet Yellen avisou que, duas reuniões após a retirada da expressão “paciente” do seu comunicado, os dólares provavelmente começarão a ser sugados.

Na segunda-feira, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos divulgou seus números sobre o mercado de mão de obra. A queda do nível do desemprego de 5,7% em janeiro para 5,5% em fevereiro foi entendida como sinal de que a economia americana não precisa mais da cadeira de rodas para impulsionar contratações de pessoal pelo setor produtivo. Foi entendida como indicador de que o Fed pode começar a enxugar.

O BCE, por sua vez, já colocou em funcionamento seu injetor de euros. Segunda-feira, como confirmou seu diretor executivo Benoît Coeuré, o sistema comprou os primeiros lotes de títulos por 3,2 bilhões de euros. O volume mensal deve atingir 60 bilhões de euros, até um total de 1,104 trilhão, processo que deverá ser completado apenas em agosto de 2016.

Essas operações cruzadas produzem efeitos opostos. Enquanto o dólar se valoriza, o euro se desvaloriza. Como é o dólar que serve de medida de valor para a maior parte das mercadorias, as cotações das commodities enfrentam novo fator de queda, não mais pelo jogo da oferta e da procura, mas porque o dólar mais forte compra mais petróleo, mais metais e mais grãos do que antes.

O real sofreu duplo impacto: tanto o relacionado com a deterioração das condições da economia quanto o da valorização do dólar. Nos últimos 12 meses (até esta quarta-feira) o real se desvalorizou 25% em relação ao dólar. Só em 2015 foram 15%.

A consequência imediata mais importante desses efeitos combinados é a alta dos produtos importados e seu impacto sobre a inflação. É um dos fatores que poderão exigir a continuação do processo de alta dos juros pelo Banco Central.

A disparada do dólar tende a melhorar a competitividade da indústria e impulsiona as exportações. Com isso, o agronegócio recupera o faturamento antes abatido pela queda das cotações das commodities agrícolas. Mas o passivo da Petrobrás aumentou em reais e vai tirando a capacidade de recomposição de caixa.

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