quarta-feira, 11 de março de 2015

Delação premiada serve de aula de fisiologismo – Editorial / O Globo

• Os operadores do esquema mostram o que acontece quando partidos políticos são responsáveis por nomeações para cargos que gerenciam grandes orçamentos

Entre as diferenças do petrolão e o mensalão — ambos esquemas montados para subtrair dinheiro público a fim de lubrificar alianças do PT — está a forma de tramitação dos escândalos pelo Poder Judiciário.

Ao contrário do mensalão, cujo desfecho ficou concentrado no Supremo Tribunal Federal (STF), no petrolão há outro forte polo jurídico, na primeira instância da Justiça Federal do Paraná, onde começarão a ser julgados operadores financeiros do esquema, empreiteiros, executivos, ex-diretores da Petrobras e outros envolvidos que não tenham foro privilegiado.

Isso significa que o trabalho da 2ª Turma do STF, foro de deputados e senadores que vierem a ser denunciados, transcorrerá quando já será conhecida a essência da mecânica de funcionamento da corrupção na Petrobras. No mensalão, o método de abastecimento da lavanderia de dinheiro de Marcos Valério e o sistema de distribuição do dinheiro surgiram por inteiro apenas no decorrer do julgamento.

As delações premiadas que começam a ser divulgadas agora revelam detalhes de como o fisiologismo foi um dos alicerces do grande assalto à Petrobras. Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal (2004-2012), no depoimento que prestou em troca de redução de penas, foi ao ponto:

— Uma vez ocupando o cargo de diretor por indicação política, o grupo político demandará algo em troca.

Simples dessa forma. Portanto, o método do toma lá dá cá, pelo qual Lula e Dilma estruturaram seus governos e base parlamentar, encontra-se sempre na antessala da corrupção. Está a um passo da cobrança de propinas e outros “malfeitos”.

Paulo Roberto foi indicado pelo PP — partido com mais parlamentares incluídos na lista de Janot. Já Renato Duque, diretoria de Serviços, é tido como apadrinhado pelo PT etc. Os diversos testemunhos já prestados em Curitiba ao juiz Sérgio Moro e Ministério Público relatam intensa movimentação de operadores desses partidos e do PMDB: Alberto Youssef, Fernando Soares, ou Baiano, e João Vaccari Neto, tesoureiro do PT.

O comparecimento do ex-gerente da estatal Pedro Barusco — o homem de US$ 97 milhões — à nova CPI da Petrobras, ontem, ajudou a realçar o trânsito de Vaccari na estatal. Não por coincidência, Barusco era braço direito do diretor Duque, indicado pelo próprio José Dirceu, comenta-se sem desmentidos.

Um dos símbolos mais fortes do fisiologismo reinante no primeiro governo Dilma está na delação feita por Youssef. Segundo ele, o ministro das Cidades Mário Negromonte (PP-BA) foi substituído em 2012 por Aguinaldo Ribeiro (PB) porque ele não estava sendo generoso na distribuição, dentro do partido, das propinas amealhadas na Petrobras

Não se sabe é se quem assinou a troca de ministros, a presidente Dilma, foi informada dos motivos da perda de apoio de Negromonte no PP.

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