domingo, 29 de março de 2015

Dilma nem sempre age de forma eficaz, afirma Levy

• Declaração foi dada por ministro em evento a portas fechadas em São Paulo

• Em nota à Folha, Levy diz que frase foi dita em clima informal e lamenta que tenha sido tirada de contexto

Joana Cunha – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou na última terça-feira (24), em evento a portas fechadas em São Paulo, que, embora seja bem-intencionada, a presidente Dilma Rousseff nem sempre faz as coisas da maneira mais simples e eficaz.

"Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes, não da maneira mais fácil, mas... Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno", disse o ministro, conforme gravação do evento obtida pela Folha.

Neste sábado (28), o ministro afirmou que a frase foi tirada de contexto e reclamou da interpretação. A declaração --a primeira em que Levy direciona uma crítica especificamente ao nome da presidente-- foi dada em clima informal a uma plateia de dezenas de ex-alunos da escola de negócios da Universidade de Chicago, instituição onde Levy se graduou Ph.D.

O diálogo ocorreu em inglês, idioma de alguns dos espectadores, e a frase original foi: "I think that there is a genuine desire by the president to get things right, sometimes not the easiest way, but... Not the most effective way, but there is this genuine desire".

O ministro já tinha feito críticas à gestão da presidente, mas nunca à sua pessoa.

No final de fevereiro, quando anunciava novas medidas de seu ajuste fiscal, ele usou expressões duras contra o programa lançado no primeiro mandato para desonerar a folha de pagamento.

Na ocasião, Levy disse a jornalistas que as medidas anteriores foram grosseiras, uma "brincadeira" que havia custado caro aos cofres brasileiros e que não tinha gerado resultado equivalente na proteção dos empregos.

Dias depois, recebeu um puxão de orelha da presidente, que disse a jornalistas ter considerado infelizes as declarações do ministro.

Na terça passada (24), o contexto da afirmação foram observações já reiteradas nos últimos meses por Levy sobre a condução da política econômica no primeiro mandato.

Descreveu o governo como "ciente dos erros cometidos" e em consenso sobre a necessidade de mudanças. Citou um "processo de aprendizado" e disse que há vigilância para evitar novos equívocos.

A pergunta da plateia que levou o ministro a mencionar a presidente incluía as mudanças em curso e a equipe do Ministério da Fazenda.

Em eventos com empresários, o discurso do ministro em defesa do ajuste fiscal tem passado pelo que ele descreve como erros do passado. Em palestra a executivos de multinacionais há um mês, Levy chegou a dizer que o país deu uma "escorregadazinha" no campo fiscal, mas que a responsabilidade nas contas públicas foi retomada.

O vocabulário do ministro costuma carregar ironias, como em recente entrevista à Folha, quando defendeu as medidas adotadas comparando-as indiretamente ao regime que fez a presidente perder peso. No evento de terça, fez gargalhar a plateia ao se referir aos congressistas como "novos amigos".

Nenhum comentário:

Postar um comentário