segunda-feira, 9 de março de 2015

Inflação, preço do populismo – Editorial / O Estado de S. Paulo

Fevereiro passou, mas o carnaval da inflação continua e só os muito otimistas podem apostar, agora, em um resultado final parecido com o do ano passado, quando os preços ao consumidor subiram 6,41%, muito além da meta oficial de 4,5%. Projeções próximas de 8% para 2015 circulam no mercado há vários dias. A expectativa de um balanço anual muito feio foi reforçada com a divulgação dos números do mês passado. A inflação acumulada em 12 meses chegou a 7,7%, a maior taxa desde maio de 2005, quando havia alcançado 8,05%. A alta mensal medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até diminuiu ligeiramente, passando de 1,24% em janeiro para 1,22% no mês seguinte, mas o conjunto de pressões continua muito forte. Com a crise política, o dólar instável, os possíveis efeitos da seca e a correção de preços contidos de forma voluntarista nos últimos anos, ficou muito difícil apostar em condições bem mais favoráveis nos próximos meses.

Até o ajuste das contas públicas, componente essencial do esforço de estabilização, pode ter efeitos inflacionários a curtíssimo prazo. Com o fim do auxílio do Tesouro às empresas de eletricidade, as distribuidoras terão mais custos para repassar aos consumidores, já pressionados pela correção de tarifas. As despesas com o transporte público também refletem a atualização de tarifas congeladas por longo tempo.

Além disso, os benefícios do petróleo mais barato no mercado internacional estão vedados ao consumidor brasileiro. Prejudicada pela contenção de preços nos últimos anos e por uma porção de outros desmandos, a Petrobrás está sem margem para repassar qualquer benefício ao consumidor.

A alta do IPCA no mês passado foi a maior para um mês de fevereiro desde 2003, quando chegou a 1,57%. Além disso, nenhuma taxa mensal foi tão elevada entre 2004 e 2014, num período, portanto, de 11 anos. Mas a situação, é claro, agravou-se nos últimos quatro anos, por causa da combinação de vários fatores, como o excesso do gasto público, a expansão do crédito ao consumidor e o desajuste cada vez mais amplo entre demanda e oferta. A tolerância à inflação permitiu taxas anuais sempre muito longe da meta e às vezes superiores a 6%. Além disso, a contenção política de preços e tarifas para maquiar os indicadores agravou as distorções e tornou mais complicado o esforço de estabilização.

Os brasileiros pagam hoje por um enorme acúmulo de erros políticos. Os erros foram apontados por analistas do mercado, da imprensa e da academia, mas o governo comandado pela presidente Dilma Rousseff preferiu manter o padrão populista e voluntarista, repetindo equívocos e desmandos bem conhecidos na história do Brasil e de outros países latino-americanos. As lições foram aprendidas em vários desses países, onde os governos, mesmo com diferentes inclinações políticas, têm coincidido no respeito a certas normas básicas de bom senso. A combinação de crescimento econômico bem maior que o do Brasil com taxas de inflação bem menores tem sido uma das consequências.

É inútil apontar o famigerado vilão da inflação - alimentos, transporte, energia, serviços e assim por diante. Em fevereiro, os preços da alimentação subiram, no varejo, menos que em janeiro, mas a gasolina encareceu 8,42% e isso produziu um impacto de 0,31 ponto porcentual no conjunto dos preços. Em março, o aumento geral pode ser puxado por qualquer outro componente. O vilão da inflação é mesmo o governo. Sua enorme coleção de erros produziu, especialmente nos últimos quatro anos, uma porção de distorções, criando um ambiente muito favorável à inflação. Nos 12 meses até fevereiro os preços por atacado subiram 1,67%, muito menos que no período até fevereiro do ano passado, quando a alta acumulada ficou em 6,15%. Mas os preços ao consumidor continuaram aumentando rapidamente - um claro sinal de graves distorções criadas pela política federal.

Não é preciso, diante de todos esses fatos, justificar o aumento de juros anunciado na quarta-feira passada pelo Banco Central, de 12,25% para 12,75%. E quem se surpreenderá, se o aperto monetário continuar nos próximos meses?

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