quarta-feira, 4 de março de 2015

Investigação agrava crise

Na lista da Lava-Jato...

  • Presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, ambos do PMDB, têm seus nomes incluídos na lista entregue pelo Ministério Público Federal ao STF, e crise entre Congresso e governo se agrava

Paulo Celso Pereira – O Globo

BRASÍLIA - Os presidentes da Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, senador Renan Calheiros (AL), ambos do PMDB foram informados que estão na lista de autoridades acusadas de envolvimento em irregularidades que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF). A notícia agravou ainda mais a crise política do governo com o Congresso. Renan, que já vinha demonstrando irritação com o Planalto nos últimos dias, devolveu ao Executivo ontem a medida provisória que altera a política de desonerações fiscais. A lista de Janot tem 28 pedidos de abertura de inquéritos contra políticos.

Na última segunda-feira, Renan não participou do jantar oferecido pela presidente Dilma Rousseff à cúpula do PMDB. Na semana passada, ele já chamara a coalização do governo Dilma de "capenga" e, depois, afirmou que houve um "escorregadão" na política econômica e fiscal. Ontem, perguntado sobre sua inclusão na lista de Janot, não quis confirmar se foi avisado:

- Não tenho nenhuma informação.

Renan disse ontem a aliados que está "tranquilo" com o pedido de abertura de inquérito pelo Ministério Público Federal por suposto envolvimento com o doleiro Alberto Yousseff no escândalo de corrupção na Petrobras. Segundo ele, as citações são "laterais" e "inconsistentes". Nessas conversas, Renan disse acreditar que a ação será arquivada e, assim, ele terá um instrumento formal comprovando que não tem envolvimento com o esquema criminoso. Renan reiterou ainda nessas conversas que nunca se encontrou com os envolvidos e que não conhece as pessoas que citaram seu nome.

Já o presidente da Câmara negou ter sido comunicado de decisão do Ministério Público de que foi incluído entre os investigados. "Não fui avisado por ninguém. Isso é mentira", respondeu inicialmente Cunha em mensagem. Depois, em entrevista, disse que não estava apreensivo com a possibilidade de ter o nome na lista de Janot.

- Nenhuma apreensão, estou absolutamente tranquilo. Já fui vítima de uma "alopragem" há dois ou três meses e, se essa "alopragem" não foi suficientemente esclarecida, que o seja. E qualquer outra "alopragem" que possa aparecer estarei pronto sempre a esclarecer. Ninguém está imune absolutamente a nenhum tipo de investigação - disse Cunha. - Só não posso deixar que a mentira ganhe corpo. Se, eventualmente, está ou não está (o nome na lista) é um outro problema.

Cunha afastou a hipótese de um parlamentar renunciar, caso seu nome apareça na lista.

- Isso é um absurdo.

Contadora de Youssef citou Renan
Em setembro, O GLOBO revelou que, em depoimento colhido pela Polícia Federal, a contadora Meire Poza, ex-funcionária do grupo de Youssef, afirmou que o doleiro teria se reunido com Renan em Brasília. Ainda segundo a contadora, os dois teriam fechado um acordo verbal sobre negócios de R$ 50 milhões envolvendo os fundos de pensão dos Correios, o Postalis, e da Caixa Econômica Federal, o Funcef. Quando a notícia veio a público, Renan negou ter se encontrado com Youssef. Disse que era "zero" a chance de ter se encontrado com "essa gente".

- Sinceramente, a chance de que eu possa ter tido encontro com essa gente é zero, absolutamente zero. Nenhuma chance. Não sei quem é (Youssef). Não conheço nenhum desses. Não sei quem é, nunca ouvi falar, só pelos jornais - disse Renan.

Youssef, segundo Meire, contou que esteve com Renan "para acertar a ponta que era do PMDB". No depoimento, ela afirmou que parlamentares do PT e do PMDB fizeram as negociações pelos aportes dos fundos Postalis e Funcef.

Cunha foi acusado de ter recebido dinheiro do esquema da Petrobras pelo agente da Polícia Federal Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca, que teria entregue a propina ao deputado. À força-tarefa da Operação Lava-Jato, Youssef também teria dito em delação premiada que Cunha recebeu propina por meio de Fernando Soares, o Fernando Baiano, que seria o operador do PMDB e que está preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba.

"Também levei dinheiro de Youssef umas duas ou três vezes para uma casa no condomínio que, acho, se chama Nova Ipanema, localizado na Barra da Tijuca, em frente ao Barra Shopping, em uma casa amarela de dois andares, entrando no condomínio, vira à esquerda. (...) Segundo Youssef me falou, essa é a casa de Eduardo Cunha. Nessa casa fui atendido e entreguei o dinheiro ao proprietário, mas não posso afirmar com certeza que seja Eduardo Cunha", disse Careca à Polícia Federal em 18 de novembro. A casa não era de Cunha, mas do advogado Francisco José Reis, que atuou como assessor parlamentar do presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, na década de 1990. (Colaboraram Simone Iglesias, Isabel Braga e Eduardo Bresciani)

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