quinta-feira, 12 de março de 2015

Jarbas de Holanda - Ruas tornam tempestade mais que perfeita.

O diagnóstico da tempestade perfeita, com a combinação de crises econômica e política, passou a ser aplicado aos problemas vividos por Dilma Rousseff na fase inicial (que parece terminal) do segundo mandato, desde quando aos pesados custos a serem cobrados para o enfrentamento do descalabro fiscal – promovido no primeiro – agregou-se a decomposição de sua base parlamentar de apoio e, em consequência, a difícil ou improvável viabilidade institucional do ajuste das contas públicas. Isso de par com um quadro de forte pressão inflacionária e de aguda contração das atividades produtivas. 

Tal decomposição começou com a esmagadora derrota do candidato governista na disputa do comando da Câmara dos Deputados; foi seguida por outras derrotas como a abertura de nova CPI sobre o petrolão, a iniciativa de desencadeamento da reforma política e o rechaço ao plano hostil ao PMDB do Palácio do Planalto de criação e fusão de partidos. Desdobrando-se no Senado pela devolução da MP do corte das desonerações das folhas de pagamento das empresas. Num processo de afirmação da autonomia do Poder Legislativo e de contraposição dele a objetivos e projetos importantes do Executivo.

Processo favorecido pelo grande desgaste da presidente e do PT no eleitorado, inclusive no de menor renda. E não revertido mas ao contrário estimulado pela presença dos presidentes das duas Casas na lista dos políticos a serem investigados na operação Lava-Jato. Presença que os dois vincularam a objetivo do Planalto de usar a referida operação para enfraquecer o Legislativo. E processo que, a partir do bloqueio à MP das desonerações, sequenciado pela imposição de mudança na relativa ao reajuste da tabela do Imposto de Renda (como alternativa à manutenção dos 6,5% para todos os reajustes), ambas importantes para aumento da receita da União, reduz seriamente as perspectivas de viabilidade do ajuste fiscal. 

Cálculo este responsável pela predominância do pessimismo dos investidores internos e externos e dos líderes das diversas atividades produtivas quanto a essa viabilidade. Cenário que, agravado pela dramática situação da Petrobras – enormes prejuízo e endividamento e colapso de muitos projetos em execução e programados – mistura os dois ingredientes da chamada tempestade perfeita.

Que começa a expandir-se para uma mais que perfeita por causa da adição de um terceiro ingrediente, explosivo política e institucionalmente: o das manifestações de rua, dominadas por protestos contra Dilma e o PT e a corrupção na Petrobras. O panelaço, o buzinaço e as vaias, inesperados e espontâneos, de domingo à noite, em grandes cidades de 12 estados, anularam pronunciamento feito simultaneamente pela presidente (no qual ela usou uma rede nacional de rádio e televisão convocada a pretexto de comemoração do Dia da Mulher para justificar – muito mal – a necessidade do ajuste), ganhando as manchetes das matérias sobre os dois eventos. 

Tendo cumprido a função de um ensaio das manifestações do gênero em todo o país previstas para o próximo domingo, dia 15. E as ruidosas vaias dirigidas a Dilma, ontem na capital paulista, por populares (expositores e funcionários de uma feira de produtos da indústria da construção, que se realiza no Anhembi), esvaziaram o discurso da luta de classes do lulopetismo, sua tentativa de caracterizar tais protestos como atos da “burguesia golpista”. Além de indicarem o crescente isolamento político e social da presidente. 

Cujo grau de desaprovação já está bem além do constatado no Datafolha do começo de fevereiro. O que vai acentuando dúvidas sobre a persistência das condições que ela tem de garantir governabilidade. E abrindo espaço para especulações em torno de alternativas com esse objetivo – com ela à frente da presidência, mas num entendimento com o PMDB e o PSDB em torno de uma reorientação de prioridades e objetivos políticos e econômicos; sua substituição pelo vice-presidente Michel Temer; e o impeachment, cobrado nas ruas pelo “Fora Dilma”, “Fora PT”, mas ainda considerado perigoso pelo mercado e prematuro pela oposição, por não apoiar-se em responsáveis avaliação e acerto político e institucional sobre o day after.

E mais uma etapa da operação Lava-Jato
A Lava-Jato – O depoimento de Pedro Barusco ontem na CPI da Câmara (esta, como previmos no final de 2014, refletindo a quebra da aliança PMDB-PT e livre do controle com que o governo esvaziou as anteriores), antecipou para a opinião pública o centro de nova fase da operação Lava-Jato.  A que trata das propinas, mais vultosas, cobradas e recebidas pelo diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque e pelo gerente Barusco, em articulação com o tesoureiro do PT, João Vacary.

Fase que, após a centrada nas relações do diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, com o PP (cujos parlamentares dominaram a primeira lista de investigados na operação) aponta para o peso essencial da apropriação e do desvio de recursos para as campanhas presidenciais de Lula e de Dilma. E na qual dados importantes estão sendo e serão obtidos, pelo Ministério Público do Paraná e pelo juiz Sérgio Moro, nas novas delações premiadas em andamento e em depoimentos de investigados sem foro privilegiado, como os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci.

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Jarbas de Holanda é jornalista

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