segunda-feira, 9 de março de 2015

Opinião do dia – Miriam Leitão

A quem aproveita o crime? Essa é a pergunta inicial de qualquer investigação, mas as instituições do país não a fizeram no mensalão e começam a demonstrar que ela não será feita no caso Petrobras. No escândalo que envolve a maior empresa do país, há indícios de roubo para beneficiar ex-dirigentes da companhia, mas também de que parte do dinheiro foi para partidos da base de sustentação da Presidência.

No mensalão, o ex-presidente Lula foi poupado, apesar de ter ficado provado que dinheiro do esquema financiou sua campanha, costurou a aliança entre PT e PL para a formação da chapa presidencial e pagou o marqueteiro em conta secreta no exterior. O então tesoureiro do PT confessou “dinheiro não contabilizado”; o então marqueteiro confessou que recebeu de forma irregular. A teoria do “domínio do fato” foi usada na condenação do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu. Mas nada chegou a quem foi eleito pelos recursos assim desviados, em contratos diretos e indiretos com o setor público, na engenharia financeira montada por Marcos Valério.

Na corrupção da Petrobras, tudo parece mais escancarado. Houve uma aceleração do crescimento do propinoduto por onde saíram bilhões de reais. Muito dinheiro foi para quem, hoje, em processos de delação, confessa que recebeu para seu próprio proveito. Nas confissões em que admitem seus crimes, eles contam que propinas foram pagas também a vários operadores dos partidos da base. Um deles, o Partido dos Trabalhadores. Os dedos dos delatores apontam para o tesoureiro João Vaccari Neto.

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Miriam Leitão, jornalista, em artigo ‘Primeira pergunta’. O Globo, 8 de março de 2015

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