domingo, 22 de março de 2015

Pagamentos a Dirceu eram propina, dizem empreiteiras

• Segundo executivos, valores eram descontados de comissões devidas ao PT

• Empresas investigadas pagaram R$ 9,5 milhões para consultoria do ex-ministro; petista diz que prestou serviços

Flávio Ferreira - Folha de S. Paulo

CURITIBA - Um dos empreiteiros acusados de participar do esquema de corrupção descoberto na Petrobras afirmou a investigadores da Operação Lava Jato que pagamentos feitos à consultoria do ex-ministro José Dirceu eram parte da propina cobrada pelo esquema.

Atualmente preso em Curitiba, o presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, disse que os pagamentos a Dirceu eram descontados das comissões que sua empresa devia ao esquema, que correspondiam a 2% do valor de seus contratos na Petrobras.

Um representante de outra empreiteira sob suspeita, a Camargo Corrêa, afirmou aos investigadores que a empresa decidiu contratar os serviços de Dirceu por temer que uma recusa prejudicasse seus negócios com a Petrobras.

Os relatos dos empreiteiros, feitos durante reuniões com investigadores da Operação Lava Jato e não em depoimentos formais, chamaram atenção por revelar detalhes sobre a maneira como o ex-ministro se aproximou dos fornecedores da Petrobras.

Homem forte do início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dirceu caiu em meio ao escândalo do mensalão e foi condenado a dez anos de prisão no julgamento do caso. Ele hoje cumpre pena de prisão domiciliar, em Brasília.

Detalhes sobre os negócios do ex-ministro como consultor foram revelados na semana passada, quando o juiz Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato na Justiça Federal, divulgou um relatório da Receita Federal sobre a consultoria de Dirceu.
O ex-ministro ganhou como consultor R$ 29,2 milhões entre 2006 e 2013. Cerca de um terço do dinheiro entrou na sua conta no período em que ele estava sendo julgado pelo Supremo Tribunal Federal por seu envolvimento com o mensalão, entre 2012 e 2013.

Empresas investigadas pela Lava Jato pagaram R$ 9,5 milhões pelos serviços da consultoria de Dirceu, num período em que o diretor de Serviços da Petrobras era Renato Duque, apontado como afilhado político de Dirceu --o que ele nega-- e preso em Curitiba há uma semana.

Os empreiteiros ouvidos pelos investigadores da Lava Jato disseram que Dirceu procurava empresas que tinham contratos na Petrobras para oferecer seus serviços sem fazer menção explícita às comissões do esquema na estatal.

Segundo detalhou Pessoa, após a contratação de Dirceu, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, autorizava que os valores pagos à consultoria do ex-ministro fossem descontados da propina derivada dos negócios com a diretoria de Serviços.

Os executivos contaram que Dirceu chegou a fazer alguns contatos em favor das empreiteiras, mas disseram considerar supervalorizados os serviços pelos quais pagaram. O ex-ministro afirma que sua consultoria prestou serviços legalmente e nega que tivesse conhecimento do esquema de corrupção na Petrobras.

Ricardo Pessoa, o presidente da UTC, negociou com os procuradores da Lava Jato um acordo para colaborar com as investigações em troca de redução da sua pena, mas não conseguiu chegar a um entendimento com eles.

Dois executivos da Camargo Corrêa presos em Curitiba, o presidente da empreiteira, Dalton Avancini, e o vice-presidente da área de finanças, Eduardo Leite, conseguiram um acordo com os procuradores e já prestaram vários depoimentos formalmente.

Os investigadores da Lava Jato acreditam ter localizado um vínculo entre Dirceu e o esquema de corrupção ao encontrar entre os clientes do ex-ministro a Jamp Engenharia, do consultor Milton Pascowitch, apontado como um dos operadores que teria distribuído propina para o PT.

Colaboraram Graciliano Rocha e Lucas Ferraz, de São Paulo

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