sexta-feira, 27 de março de 2015

PSDB se une à frente de oposição aos bolivarianos

• Aécio conversa com mulheres de políticos presos venezuelanos e pede pressão externa

Felipe Corazza - O Estado de S. Paulo

LIMA - Um dos pedidos lidos com frequência nos cartazes das manifestações de rua de 15 de março parece ter entrado de vez na pauta estratégica do PSDB: o combate ao "bolivarianismo" - mais especificamente, a pressão internacional contra o governo venezuelano e as políticas de repressão contra opositores de seu presidente, Nicolás Maduro.

Um dia após o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ter anunciado sua adesão a um grupo comandado pelo ex-premiê espanhol Felipe González para advogar a favor de presos considerados "detentos políticos" na Venezuela, o senador Aécio Neves (MG) encontrou-se, em Lima, com as mulheres dos dois mais notórios deles: Lilian Tintori, casada com Leopoldo López, e Mitzy Capriles Ledezma, mulher do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma.

Detido desde fevereiro do ano passado, López é ex-prefeito do município de Chacao (que integra a Grande Caracas) e foi acusado de ter incitado violência nas manifestações contra o chavismo naquele mesmo mês - os protestos em todo o país terminaram com saldo de 43 mortes.

Ledezma foi preso por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) em janeiro, sob a acusação de integrar uma conspiração para derrubar Maduro do poder.

O senador se encontrou com as mulheres de ambos no início do Seminário Internacional América Latina: Desafios e Oportunidades, organizado pela Fundação Internacional para a Liberdade (FIL), com sede na Argentina.

Houve dois momentos de encontro com o presidente do PSDB, que passa a integrar uma espécie de "frente antibolivariana" que cobra condenações explícitas dos governos da região ao que consideram violações de direitos humanos por ordem de Maduro. Na chegada ao seminário, Aécio as cumprimentou e conversou por alguns minutos. Em seguida, as duas discursaram na palestra "Venezuela e Liberdade".

Tanto Lilian quanto Mitzy cobraram mais envolvimento dos governos da região e pressão contra o presidente venezuelano, Nicolás Maduro. "Quem se cala é cumplice e tenho certeza de que toda a América Latina vai se pronunciar", afirmou a mulher de López.

Encerradas as explanações, o senador teve novo encontro com Lilian e Mitzy. Durante a conversa, a mulher de Leopoldo López agradeceu com entusiasmo ao brasileiro pela presença no evento. Aécio destacou a importância de um esforço internacional de pressão pela libertação de todos os detentos políticos da Venezuela - além de figuras proeminentes da oposição, ainda estão encarcerados dezenas de estudantes acusados de violência nas manifestações.

Pouco depois de conversar com Aécio, Lilian Tintori anunciou que continuará seu giro pelo mundo pedindo apoio à causa. Sem detalhar os próximos destinos, disse que levará "a cada canto da nossa América Latina" sua mensagem. Dias antes, Lilian manifestara intenção de visitar o Brasil já no próximo mês. De acordo com sua assessoria, Aécio não tratou do tema nas conversas que teve ontem.

Hoje, Aécio fará sua palestra no painel Entre o Populismo e a Liberdade, ao lado do escritor Álvaro Vargas Llosa - filho do prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, que preside a FIL.

Críticas. Colunista do Estado, Mario Vargas Llosa também discursou ontem e condenou a postura do presidente peruano, Ollanta Humala, que não recebeu as dissidentes venezuelanas em sua visita à capital. "Que vergonha que na América Latina haja tão poucos governos que condenaram a ação repressora do oficialismo venezuelano", afirmou.

Além do senador brasileiro e dos escritores, participam do evento o principal candidato derrotado à presidência do Uruguai na eleição de outubro, Luis Lacalle Pou, o ex-presidente uruguaio Jorge Batlle (2000-2005), o ex-presidente colombiano Andrés Pastrana e o escritor cubano Carlos Alberto Montaner.

Divisões. A ofensiva do PSDB na questão da Venezuela parece atender a um chamado que dividiu grupos organizadores dos protestos do dia 15. Um vídeo que circulou pela web horas antes das manifestações acusava uma das organizações - o Vem Pra Rua - de ignorar o combate às ideias bolivarianas no continente. A mensagem acusava o principal partido da oposição de ter se "vendido".

As cobranças por resposta mais firme do governo brasileiro ante a escalada repressiva do chavismo dentro da Venezuela, no entanto, não são novas. Desde o início das manifestações de 2014 em Caracas, partidos da oposição brasileira instaram o Executivo a se manifestar claramente. No âmbito da Comissão de Relações Exteriores do Senado, o senador tucano Aloysio Nunes (SP) chegou a propor, no início da semana, que a embaixadora venezuelana no Brasil, María Lourdes Urbaneja, fosse convidada a dar explicações. A ideia não prosperou.

O Planalto tem demonstrado insatisfação crescente com o recrudescimento da repressão no país vizinho, mas as manifestações oficiais têm sido tímidas e quase sempre restritas aos contextos das reuniões emergenciais da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Chávez torna termo popular. O termo "bolivarianismo" foi popularizado pelo ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez, após assumir a presidência do país em 1999. Refere-se ao ex-general venezuelano do século 19 Simón Bolívar, que esteve à frente de movimentos independentistas na Venezuela, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Entre os ideais de Bolívar estão a defesa da educação pública e gratuita, bem como acesso irrestrito a sistema de saúde público. Representa também repúdio ao sistema neoliberal e presença estrangeira na região. Convencionou-se, então, chamar de "bolivarianos" os países com governos de orientação esquerdista na América Latina, como Venezuela, Bolívia e Equador.

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