quinta-feira, 30 de abril de 2015

Aliados querem que Dilma se declare contra terceirização

• Lula pede à presidente petista que combata projeto que desagrada sindicatos

• Renan cobra posição menos ambígua sobre a proposta, que foi aprovada na Câmara e agora está no Senado

Bela Megale, Catia Seabra, Claudia Rolli, João Carlos Magalhães e Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Aliados da presidente Dilma Rousseff aumentaram nos últimos dias pressões para que ela se manifeste claramente contra o polêmico projeto que amplia a terceirização do trabalho no país, visto pelos sindicatos como uma ameaça aos trabalhadores.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende que a sucessora reveja a decisão de cancelar o tradicional pronunciamento de 1º de maio e vá ao rádio e à televisão nesta sexta para anunciar sua disposição de vetar o projeto se o Congresso aprová-lo.

Há duas semanas, em reunião com sindicalistas, Lula fez um apelo à petista: "Dilma, se tem gente para te defender para sair dessa enrascada, é esse pessoal aqui".
Na segunda (27), Lula repetiu o pedido em nova reunião com sindicalistas: "Tranquilamente, a companheira Dilma vai vetar [o projeto da terceirização]".

Na avaliação dos petistas, além de acenar para a base histórica do partido, um gesto da presidente seduziria eleitores cuja insatisfação engrossou os protestos recentes contra o governo.

Lula confirmou presença no evento organizado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) para celebrar o Dia do Trabalho nesta sexta, em São Paulo. Ele não participava do evento desde 2010.

A CUT, junto a outras centrais e movimentos sociais, fará passeatas de três pontos do centro de São Paulo até o Vale do Anhangabaú. A Força Sindical, que é a favor da terceirização, comemorará a data na Praça Campo de Bagatelle.

Aprovado pela Câmara há uma semana, o projeto que permite que empresas terceirizem todas as suas atividades pode ajudá-las a reduzir custos e tornar-se mais eficientes.

A CUT e outras centrais sindicais se opõem ao projeto pelos riscos que ele cria aos trabalhadores, que temem desemprego, redução dos salários e perda de direitos trabalhistas.
O texto está agora no Senado, que pode modificá-lo para restringir o alcance da terceirização. Se isso ocorrer, a proposta voltará à Câmara.

Clareza
"Falta clareza do governo", disse o presidente da CUT, Vagner Freitas. "Ele tem se colocado contra, a presidenta disse ser contra, o que para nós é importante, mas ela tem de fazer um pronunciamento público, antes do 1º de maio."

Na segunda, Dilma defendeu a regulamentação da terceirização, desde que preservados direitos trabalhistas e receitas obtidas pelo governo com impostos.

A presidente indicou ser contra a extensão da terceirização a todas as atividades das empresas e sugeriu que se busque um "equilíbrio" no Congresso. A lei hoje só permite a terceirização nas atividades-meio das empresas, sem defini-las com precisão.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cobrou de Dilma nesta quarta (29) uma posição menos ambígua. "O que se quer é que a presidente diga claramente o que pensa do projeto, da precarização, do direito do trabalhador", afirmou.

Em vez do tradicional pronunciamento em cadeia nacional, a presidente divulgará neste 1º de maio um ou três vídeos com mensagens nas redes sociais, segundo o ministro Edinho Silva (Comunicação Social).

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