quinta-feira, 23 de abril de 2015

Corrupção e má gestão levam Petrobras ao prejuízo pela primeira vez desde 1991

• Rombo na estatal em 2014 foi de R$ 21,6 bi

• Pagamento de propinas foi estimado em R$ 6,2 bi

• Decisões erradas de investimento e de gerenciamento desvalorizaram ativos em R$ 44,6 bi

• Nova diretoria diz que publicação do balanço deve permitir à empresa obter mais financiamento

Raquel Landim, Samantha Lima, Lucas Vettorazzo – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, RIO - A corrupção descoberta pela Operação Lava Jato e a má gestão da companhia levaram a Petrobras a apurar seu primeiro prejuízo em 23 anos.

A estatal teve perda líquida de R$ 21,6 bilhões no ano passado. Em 2013, registrou R$ 23,6 bilhões de lucro.

Os resultados de 2014 foram corroídos por pagamento de propinas, desvalorização de ativos e grandes projetos que não saíram do papel.

Apenas em "pagamentos indevidos" para ex-funcionários e empreiteiras acusadas de participar do cartel que superfaturava as obras, a petroleira foi obrigada a reconhecer perda de R$ 6,2 bilhões.

O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, disse que o cálculo é "conservador", porque parte do dinheiro pode ser devolvida. O juiz federal Sérgio Moro já condenou seis réus a ressarcir a estatal em R$ 18 milhões, montante ainda bem abaixo das perdas.

O ajuste mais pesado para a estatal, no entanto, foi a baixa contábil de R$ 44,6 bilhões em seus ativos, provocada, principalmente, pela postergação de projetos.

Os dois principais focos de corrupção também foram os responsáveis pelas maiores baixas: o Comperj (R$ 21,8 bilhões) e a refinaria de Abreu e Lima (R$ 9,1 bilhões).

Por causa de uma explosão de custos que acabou com a rentabilidade do negócio, a estatal foi forçada a postergar sem prazo o Comperj e a segunda fase de Abreu e Lima.

Outros R$ 2,8 bilhões foram perdidos em projetos de refinarias no Maranhão e no Ceará. Idealizadas durante o governo Lula para agradar a políticos aliados, essas refinarias foram canceladas.

As correções nos valores foram essenciais para conseguir o aval da auditoria independente PwC e finalmente divulgar o resultado contábil, que estava atrasado havia cinco meses.

A estatal conseguiu se livrar do risco de vencimento antecipado de suas dívidas, que assustava os investidores, mas continua com enormes desafios para equacionar sua situação financeira.

Para melhorar a relação entre caixa e dívida, a Petrobras vai vender patrimônio, cortar investimentos e captar recursos no Brasil e lá fora.

Segundo a Folha apurou, a aprovação do balanço não foi unânime e representantes de acionistas minoritários preferiram se abster.

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