terça-feira, 28 de abril de 2015

Míriam Leitão - Ajuda externa

- O Globo

A queda do dólar chega em boa hora para a inflação. Pelo cálculo do mercado financeiro, o país terminará o ano com o IPCA em 8,2%. Em junho e julho, chegará ao pico de 8,5%. Há quem calcule mais de 9%. A redução dos preços das commodities e a diminuição da pressão cambial ajudam, portanto, nessa tarefa de conter a taxa. Esta semana os juros devem chegar a 13,25%, apesar do ambiente recessivo.

O dólar está em queda porque os últimos dados da economia americana mostraram que a recuperação não está tão forte quanto se imaginava. Esta semana será divulgado o PIB do primeiro trimestre, que deve ter ficado em nível mais baixo do que nos últimos trimestres. Sendo assim, os juros na economia dos Estados Unidos não vão subir a curto prazo, como se pensava. O mercado avalia que a alta vai ficar para o final do ano. Com isso, o dólar, que vinha se valorizando em todo o mundo, voltou a perder valor.

Para o Brasil, essa nova tendência do câmbio ajuda a evitar a piora das expectativas. A partir de um determinado ponto, a inflação contamina outros preços e deteriora o ambiente econômico. Em relatório enviado ontem a clientes, o economista Fábio Silveira, da GO Associados, disse que em junho, julho e agosto a taxa pode ficar entre 9% e 9,3%. Outros economistas não trabalham com números tão altos, mas concordam que o pico será em meados do ano e deve chegar a 8,5%.

Mesmo com a nova tendência do dólar, a moeda americana permanece num valor que mantém os produtos brasileiros muito mais competitivos do que no ano passado. No dia 25 de abril de 2014, o dólar estava em R$ 2,23. Em um ano se valorizou 30%. Mas o pico foi no dia 19 de março de 2015, R$ 3,26. Uma queda de 10% desde então.

Nos outros países aconteceu o mesmo movimento, mas com altas e quedas menos acentuadas. O Banco Central americano calcula um indicador que mede a variação do dólar frente a uma cesta de moedas pelo mundo. De julho de 2014, quando o mercado começou a prever uma elevação dos juros pelo Fed, até março deste ano, o índice subiu de 101 pontos para 117 pontos. Uma alta de 15% a favor do dólar. De lá para cá, houve uma queda em torno de 2,5%, de acordo com o economista Rodolfo Oliveira, da Tendências Consultoria.

- Após a reunião do Fed de março, que adotou um tom mais cauteloso pelo aumento de juros, o dólar parou de se fortalecer e começou a cair um pouco no mundo. Também contribuíram para isso alguns indicadores mais fracos do que o esperado na recuperação americana - explicou Rodolfo.

No Brasil, o sobe e desce da moeda americana é mais forte porque há motivos internos. A crise política neste começo de governo Dilma e os riscos que rondaram a Petrobras acentuaram a desvalorização do real. Agora, a avaliação do mercado é que a crise política deu uma trégua. Além disso, foi afastado o risco de a Petrobras enfrentar uma corrida de credores caso não conseguisse ter um balanço auditado.

A valorização do dólar também estava provocando preocupações na economia americana, avalia o economista da Tendências. As exportações do país, que vinham ajudando na recuperação, começaram a perder fôlego. Quanto mais forte a moeda, menor a competitividade para se exportar. Outro problema é o impacto sobre o preço do petróleo, que é cotado em dólar. Se a moeda americana sobe, o petróleo cai. Com isso, investimentos no setor de petróleo e gás, em especial nas novas tecnologias de extração de gás de folhelho, começaram a ficar mais incertos nos EUA.

O recuo do dólar por aqui e a cotação mais baixa das commodities aliviam a inflação brasileira, que subiu para um nível bem acima do teto da meta com o tarifaço da energia determinado pelo governo. Um dólar menor ajuda também as contas da Petrobras. A maior parte do endividamento da empresa é em moeda estrangeira e subiu muito com a desvalorização do real.

O Banco Central deve decidir amanhã a quinta elevação consecutiva da taxa de juros. Se o BC fizer o que a maioria dos analistas está prevendo, os juros subirão mais 0,5 ponto percentual e irão para 13,25%, uma taxa inimaginável para um país em recessão. A queda do dólar frustra um pouco os exportadores, mas ajuda na tarefa mais difícil na economia brasileira. A de reduzir a taxa de inflação.

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