terça-feira, 7 de abril de 2015

Míriam Leitão - Com olhos no futuro

- O Globo

Em uma época de tanta divisão, um ministro da Educação que assume com a torcida e a esperança do país já é muito. Que o ministro Renato Janine Ribeiro tenha chance de fazer um bom trabalho numa área que é fundamental para a economia, a política, as famílias e a realização das nossas ambições como país. É importante que ele olhe para erros e acertos das gestões do período democrático.

O sistema de avaliação da educação brasileira começou há 20 anos, como o ministro lembrou em entrevista publicada ontem. Foi um importante avanço, porque sem indicadores de qualidade não se pode trabalhar em educação.

O então ministro Paulo Renato de Souza tinha ideias concretas quando assumiu o Ministério. A imprensa havia publicado, na época, que ele iria para o Ministério do Planejamento. Mas ele acabou indicado para a Educação. Pedi uma conversa com ele na véspera da posse e comecei a entrevista perguntando o que ele faria no Ministério da Educação, já que, como economista, era mais natural que estivesse no Planejamento, como tinha sido cogitado.

Paulo Renato me surpreendeu com a resposta e a confirmação dela nos oito anos seguintes. Em um pedaço de papel, começou a escrever o que faria: a universalização do ensino fundamental, que virou o bem sucedido programa Toda Criança na Escola; um sistema de avaliação de ensino; um fundo de valorização do professor, que virou o Fundef. Ele sabia que metas perseguir e as perseguiu.

Nesse mar de tarefas que tem a educação brasileira, estabelecer o que é mais urgente e persistir nos objetivos traçados é fundamental. Foi o que aprendi naqueles anos.

O PT foi contra o sistema de avaliação e votou contra o Fundef. No poder, mudou nomes e a maneira de fazer a mesma coisa, mas continuou os programas. Menos mal. Houve vários ministros da Educação desde então. Alguns erraram bastante. É bom que o novo ministro evite os erros velhos. Não temos tempo a perder na Educação.

Na posse do ministro, a presidente Dilma Rousseff vinculou a defesa da Petrobras à defesa da Educação. Misturou as coisas. A prioridade da Educação não pode ser uma derivada da exploração do pré-sal.

Hoje, a Petrobras está em uma grande confusão, e defendê-la é fundamental para a economia. Duas incertezas pesam sobre a empresa: a crise da Lava-Jato e os preços internacionais do petróleo. A primeira reduz a capacidade da empresa de investir; a segunda diminui a viabilidade de alguns campos, principalmente do pré-sal.

O governo disse que o petróleo extraído das camadas ultraprofundas é o passaporte do futuro do país. Na verdade, a educação é o passaporte do futuro.

A presidente Dilma disse ontem que "nós não podemos nos iludir" porque "o que está em disputa é a forma de exploração desse patrimônio, e quem fica com a maior parte". Difícil entender do que a presidente falou no momento que deveria ser dedicado unicamente a discutir educação. O que está em disputa no caso Petrobras é a maneira de fazer negócios entre o setor público e o setor privado. A empresa deve mudar a forma de se relacionar com as empreiteiras e os fornecedores. Não podemos nos iludir: transformar a apuração dos crimes da Lava-Jato em disputa de modelo de exploração de petróleo é uma forma de confundir o debate.

Quando, afinal, falou do assunto da pasta que o novo ministro assumia, a presidente garantiu que o ajuste fiscal não afetará os programas essenciais e estruturantes do Ministério. Ótimo. Na educação, certos cortes podem provocar retrocessos inaceitáveis. No Fies, o mais importante é que o programa de financiamento seja realmente para os estudantes que precisam dele. O governo não pode continuar financiando o ensino superior de quem pode pagar por ele. O programa precisa ser sustentável economicamente.

No educação brasileira há desafios de primeiro, segundo e terceiro graus. O ministro precisa saber para onde quer ir, persistir nos seus projetos, corrigir desvios, aperfeiçoar sempre e nunca deixar o Ministério ser invadido pela política partidária. Muito tempo foi perdido nos últimos anos pela politização do órgão. Que o ministro trabalhe com olhos no futuro. É disso que se trata.

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