quinta-feira, 9 de abril de 2015

Pepe Vargas demite Ideli Salvatti antes do anúncio oficial de Dilma

• Após receber um telefonema, ex-ministro da SRI diz que é preciso esperar a nomeação pela presidente

Luiza Damé – O Globo

BRASÍLIA - Em mais um episódio atrapalhado do Palácio do Planalto na reformulação da articulação política do governo, o ex-ministro Pepe Vargas se antecipou, nesta quarta-feira, ao anúncio oficial da presidente Dilma Rousseff e demitiu a ministra da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), Ideli Salvatti. Em uma entrevista coletiva, Pepe disse que Dilma o convidou para a assumir a pasta de Direitos Humanos, substituindo a colega petista, que oficialmente continua no cargo. Pepe admitiu que ficou sabendo pela imprensa que sairia da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) para dar espaço ao PMDB.

— A presidente Dilma me convidou para ir para a Secretaria de Direitos Humanos. Eu coloquei para a presidente que poderia ajudar o seu governo, o Brasil e o povo brasileiro através do meu mandato na Câmara dos Deputados, que poderia perfeitamente voltar para a Câmara. A presidente insistiu, querendo que eu permanecesse na sua equipe. Sou daqueles que acham que as pessoas são os seus valores e as suas circunstâncias. Dentro dos meus valores, eu acredito que não deve se dizer não ao um pedido da Presidência da República para ajudar o Brasil. Fiz isso em 2012, quando ela me pediu para ir para o MDA, fiz isso em dezembro do ano passado quando ela pediu para eu ir para a SRI e faço agora, quando ela me pede para ir para a Secretaria de Direitos Humanos — disse Pepe.

A articulação política do governo será exercida pelo vice-presidente Michel Temer. Na última segunda-feira, antes de conversar com Pepe, a presidente convidou o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, para assumir a SRI. O convite vazou, e Padilha acabou recusando a nova função. Pepe só foi demitido na terça-feira e nem cumpriu a agenda que estava programada para o dia. A mudança na articulação política foi oficializada no início da noite, depois que Dilma já tinha feito o anúncio aos aliados, em reunião no Planalto. Amigo da presidente, Pepe será deslocado para a pasta de Direitos Humanos.

— Não há nenhuma circunstância que me impeça de ir para a Secretaria de Direitos Humanos. Então, pelos meus valores e pela ausência de circunstâncias que dificultem a minha ida para a Secretaria de Direitos Humanos, eu vou acolher o pedido da presidente e continuar colaborando com a equipe da presidente — afirmou.

Logo em seguida, o ministro recebeu um telefonema e voltou três minutos depois, com um discurso diferente. Negou que o telefonema fosse da presidente. Apenas disse que era uma ligação que havia pedido.

— É importante dizer que a presidente não confirmou essa questão da SDH, não houve um comunicado oficial — disse Pepe, completando:

— Se houver a nota oficial, eu posso virar ministro da SDH. Enquanto não houver a nota oficial, não existe ministro da SDH ou de qualquer outra área do governo.

Pepe disse que não ficou "nenhuma mágoa" com a presidente pela forma como ficou sabendo de sua demissão e desejou sucesso a Temer na nova função. Segundo ele, o sucesso de Temer será bom para o governo e para o país. Ele afirmou que, nos quatro meses à frente da SRI, 75% das matérias do governo foram aprovadas na Câmara, onde há maior confronto entre o PMDB e o Planalto. Negou ainda que o PMDB tenha ganhado mais poder que o PT no governo, lembrando que o partido tem a presidente da República.

— É inegável que em algumas matérias houve um ruído forte entre as posições do PMDB e as posições do govervo. É também evidente que esse ruído desorganiza e desestabiliza o conjunto da base. A presidente fez uma opção por entregar a articulação política ao PMDB. Eu torço pelo sucesso do presidente Temer nesse trabalho — afirmou.

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