quarta-feira, 8 de abril de 2015

Protestos acabam em confronto em Brasília

• Manifestantes e PM entram em confronto. Cunha ameaça punir deputados que teriam incitado violência

Washington Luiz, Isabel Braga e Júnia Gama – O Globo

Lei para contratar

BRASÍLIA - Manifestantes e policiais entraram em confronto ontem em frente ao Congresso Nacional, durante protesto contra o projeto de lei (PL) 4.330, que regulamenta a terceirização e estende a possibilidade de uso de terceirizados para toda a cadeia produtiva. Quatro pessoas foram detidas para prestar depoimento, sendo duas por lesão ao patrimônio e duas por lesão corporal. O site G1 relatou um preso por furto. Além disso, três manifestantes, dois deputados, dois policiais e um visitante da Câmara ficaram feridos, informou o órgão. Entre eles, o deputado Vicentinho (PT-SP), que participava da manifestação e foi atingido por spray de pimenta nas dependências da Congresso. Já o deputado Lincoln Portela (PR-MG) foi cercado por um grupo de cerca de 15 manifestantes e levou socos em um dos corredores da Câmara. Além do Distrito Federal, houve protestos em 16 estados, segundo o G1. Foram 6.010 manifestantes, no total, segundo a PM, e 13.960, nos cálculos das centrais sindicais.

Após os protestos, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou, irritado, que tinha vídeos, feitos por seguranças da Casa, de parlamentares incitando a violência durante a manifestação. Cunha disse que eles serão levados à Corregedoria Geral da Câmara e podem ser punidos com suspensão:

- Parlamentares que incitaram multidões a invadir ou agredir e foram devidamente filmados e fotografados serão representados à corregedoria, e haverá sanções. Porque um parlamentar não pode estimular atos dessa natureza.

Indagado sobre os nomes dos parlamentares, Cunha disse que não poderia informar.

A PM contava com um efetivo de 250 policiais e contabilizou 2,5 mil manifestantes, enquanto os organizadores calcularam entre 5 e 6 mil. Em São Paulo, onde as centrais sindicais esperavam reunir 10 mil pessoas, foram 400, segundo a PM. Houve protestos ainda em Alagoas, Acre, Amapá, Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe.

A confusão em Brasília começou quando o carro de som da Central Única dos Trabalhadores (CUT) tentou se aproximar da entrada do Congresso. Segundo o tenente Rosemildo Lima, os PMs agiram para cumprir a lei de poluição sonora, que impede barulho excessivo em frente a locais de trabalho:

- Ao tentar fazer esse bloqueio, os policiais foram atingidos com pedras e outros objetos. Isso fez com que recorrêssemos ao uso gradual da força.

De acordo com os manifestantes, porém, o atrito começou depois que um policial infiltrado jogou uma bomba embaixo do carro de som.

A PM usou spray de pimenta e bala de borracha para tentar dispersar os manifestantes. Um grupo começou a atirar cones de trânsito e outros objetos contra os policiais, que acabaram recuando. O confronto continuou em frente ao espelho d"água. Dois carros estacionados próximos ao local e um micro-ônibus da PM foram depredados.

Depois da confusão, os policiais liberaram o acesso ao carro de som. Por volta das 16h, os manifestantes começaram a se dispersar. Enquanto os representantes de outros estados partiam, outros se reuniram em frente ao Anexo 2 da Câmara, onde também houve atritos.

Os organizadores prometem fazer uma vigília no local para pressionar os deputados a votarem hoje contra o PL 4.330.

- O presidente da Câmara fez um gesto de afronta aos trabalhadores para agradar os empresários. Entendemos que a votação desse projeto é uma forma de compensá-los pela desoneração na folha de pagamentos. Vamos continuar nossos atos contra enquanto existir esse projeto prejudicial à classe trabalhadora - disse Almir César, representante da Central Sindical Popular (CSP).

Os manifestantes gritavam palavras de ordem contra Cunha e levavam faixas com dizeres como: "Não ao PL 4.330, ele vai acabar com o seu emprego" e "Trabalho decente já! Precarização, não!".

Segundo a CUT, participaram dos atos Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB),Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Central de Movimentos Populares (CMP).

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