sexta-feira, 10 de abril de 2015

Sem economia e política, resta o social

• Após delegar poderes a Levy e Temer, Dilma sinaliza que vai focar em agenda positiva

Alexandre Rodrigues – O Globo

Ao afirmar ontem que a autonomia do vice-presidente Michel Temer na articulação política "está dada", a presidente Dilma Rousseff recorreu à mesma expressão usada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, quando foi apresentado por ela como novo ocupante da pasta, em novembro de 2014. Com a economia e a política entregues a dois agentes de peso que se tornaram verdadeiras tábuas de salvação de seu governo, a presidente reforçou ontem seu discurso social, indicando que pode se concentrar nessa área para tentar gerar uma agenda positiva.

Ainda nas primeiras 24 horas como articulador, Temer avançou costurando um acordo de líderes dos partidos da base aliada em torno das medidas do ajuste fiscal que precisam ser aprovadas no Congresso. Dessa forma, o vice-presidente se associa oficialmente ao esforço de Levy - a quem já vinha ajudando nos bastidores a abrir portas no Congresso - para superar o maior desafio do governo: fechar as contas.

Dependente do sucesso da dupla, a quem precisa delegar de fato, Dilma dá sinais de que pode se voltar para as políticas sociais do governo para tentar recuperar sua popularidade em baixa. Segundo a pesquisa Ibope/CNI divulgada no início do mês, ela tem a aprovação de apenas 12% dos brasileiros.

Ontem, a presidente voou de Brasília a Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, para uma visita de menos de duas horas para entregar 500 unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida num reassentamento de famílias atingidas por enchentes. No discurso, Dilma deixou claro que vê o programa habitacional como sua iniciativa mais bem-sucedida.

Embora sem citar o ambiente de restrição orçamentária, enfatizou que o programa "vai ter sim" uma terceira etapa com mais 3 milhões de moradias para famílias de baixa renda, totalizando 6,8 milhões de unidades até 2018. Deixou claro que a tesoura de Levy não chegará ao projeto que virou a vitrine de seu governo. Lembrou ainda que o programa foi acusado de eleitoreiro, em 2009, quando, ainda ministra de Lula, se preparava para concorrer à Presidência pela primeira vez. Após enfileirar os números de casas entregues, disse que os resultados mostram "competência".

Dilma também defendeu outras ações sociais do governo, como o programa Mais Médicos e investimentos em saneamento. Diante de uma plateia restrita a beneficiários que não batem panela e nem economizam aplausos, contou que se esforça especialmente para participar das cerimônias do Minha Casa Minha Vida. De fato, de 13 viagens feitas por Dilma no país este ano, cinco foram para entregar mais de 4 mil casas.

Ela avisou que pretende seguir fazendo isso ao longo do ano, quando ficarão prontas 1,6 milhão de moradias.

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