sábado, 16 de maio de 2015

Míriam Leitão - Desafios do Rio

- O Globo

"Partido que não disputa a Presidência vira ONG." A frase é do governador Luiz Fernando Pezão, diante da pergunta sobre se o PMDB pretende ter candidato próprio em 2018. Ele diz que o partido continuará garantindo a governabilidade do atual mandato da presidente Dilma, "como sempre fez", e argumenta que a briga entre os caciques é menos profunda do que se imagina: "Os três tenores se entendem".

Os três são o vice-presidente, Michel Temer, e os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Na análise do governador, que esta semana esteve longamente com a presidente Dilma, o partido tem que ter seu projeto presidencial e tem capilaridade municipal e representação no Congresso para isso. Do contrário, vai definhar, como o DEM. Esta semana, ele teve uma noção da dimensão da crise que se abateu sobre o setor de petróleo e, portanto, o Rio de Janeiro: —Eu nem dormi e, de manhã, liguei para o Júlio Bueno (secretário de Desenvolvimento Econômico), e ele também disse que não dormiu. Esperávamos receber R$ 800 milhões de Participação Especial e veio R$ 300 milhões a menos. Os prefeitos estão me ligando. Apesar das perdas de receitas, ele se diz otimista com a capacidade do país de dar a volta por cima na atual conjuntura de dificuldades: — Semanalmente, recebo empresários que querem investir no Brasil.

Esta semana estive com representantes de dois fundos que querem investir na área imobiliária, de R$ 250 milhões a R$ 300 milhões. Não é possível que nada disso se concretize. Pezão acha que o governo tem que trabalhar para viabilizar mecanismos financeiros, como fundos garantidores para as parcerias público-privadas, e, assim, deslanchar investimentos que não podem ser feitos apenas pelo setor público, diante da escassez de re cursos. Fundos garantidores tornariam possível receber recursos do Banco Mundial e BID. O governador tem procurado fórmulas para lidar com a queda de receitas: — Negociei com credores, e 80% deles já estão na programação de pagamentos até dezembro. O Rio tem R$ 66 bilhões de dívida ativa e R$ 37 bi de autos de infração, alguns com grandes empresas que têm capacidade de pagamento. Estou montando mecanismos para receber, mesmo que seja em bens que produzem. Podem pagar com mercadorias.

Pezão acha que é preciso ter criatividade para continuar fazendo o estado andar e investir. — Converso com todo mundo, o dia inteiro. No começo, passava 60% do tempo cuidando de crise, depois, consegui reduzir para 40%, agora voltou a subir, principalmente depois de receber a péssima notícia da queda do que o Rio recolhe de Participação Especial. Quero até entender por que caiu tanto — disse Pezão, que em seguida ligou para a diretora-geral da ANP, mas ela estava em Houston. 

Outra alternativa que pensa é securitizar parte da dívida ativa através de uma Sociedade de Propósito Específico , para lançar debêntures e captar re cursos: —A queda da arrecadação preocupa, é claro , mas vamos atravessar a crise rumo ao superávit . Quer o ouvir todo mundo; segunda-feira faremos uma reunião de ex-secretários de Fazenda do Rio, para ouvi-los sobre como passaram por momentos de dificuldade.

O governador nega os sinais visíveis de que a criminalidade voltou a ocupar as áreas onde foram instaladas UPPs. Quem mora no Rio tem a nítida sensação de retrocesso na política de segurança. 

Ontem, alunos ficaram sem aula, após uma semana de mortes e intensa guerra entre traficantes. —Os números mostram queda de crimes violentos e, mesmo nos lugares onde os traficantes permanecem, agora há delegacia, há a presença da Polícia, antes não havia. Algumas áreas dão uma grande rentabilidade para o tráfico de drogas, como a Rocinha, e por isso é difícil lutar contra isso, mas nós estamos avançando.

O Bope entrou no Alemão e, por um tempo, não se ouviu um tiro. O grande problema que a sociedade tem que discutir é a Lei de Execuções Penais. Nós prendemos bandidos condenados, e, logo em seguida, a Justiça solta . Como pode um condenado a 90 anos , como o Fu da Mineira, ser solto para o dia das mães? Claro que ele fugiu. Nós prendemos, eles soltam , nossos policiais ficam até desestimulados, e os bandidos voltam a perturbar as comunidades — desabafa o governador .

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