terça-feira, 12 de maio de 2015

Produção de eletrodomésticos encolheu 22,9% no primeiro trimestre

• Com fim do IPI reduzido e juro alto, setor tem 12 meses seguidos de perdas

Lucianne Carneiro – O Globo

RIO - Na crise da indústria brasileira, o setor de eletrodomésticos é um dos mais afetados. A produção caiu 22,9% no primeiro trimestre do ano — para um recuo de 5,9% da indústria geral — diante da menor confiança do consumidor e a piora do mercado de trabalho. O setor amarga quatro trimestres seguidos de perdas na comparação com igual período do ano anterior, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE.

O desempenho nos três primeiros meses de 2015 indica uma deterioração, já que no ano passado a produção de eletrodomésticos teve queda de 1,6%. O movimento segue a tendência observada na produção de automóveis, que recuou 16,1% no primeiro trimestre — a sétima taxa negativa frente a igual trimestre do ano anterior. Na categoria bens de consumo duráveis, a perda foi de 15,8% no primeiro trimestre, a quarta taxa negativa.

— O setor sofre desde a retirada dos incentivos do IPI menor. O baixo nível de confiança do consumidor e o mercado de trabalho mais restrito atingem em cheio os bens de consumo duráveis. É um setor mais sensível ao crédito, tanto pelo encarecimento como pelo acesso mais restrito — afirma o gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, André Luiz Macedo, responsável pela pesquisa.

Na chamada linha branca — grupo que inclui geladeiras, condicionador de ar, fogão e lavadora de roupa —, o recuo foi de 7,7%. É o segundo trimestre seguido de queda, frente a igual trimestre do ano anterior. Já na linha marrom — que reúne televisões e aparelhos de som, por exemplo — a queda foi maior, de 36,2%. Nesse caso, no entanto, o resultado é influenciado principalmente por causa da base de comparação elevada. O início de 2014 foi de forte aumento na produção de TVs por causa da Copa do Mundo.

Fábrica no Ceará corta gastos
O segmento de móveis também caiu 6,6% entre janeiro e março de 2015, frente a igual período do ano passado, a quinta taxa negativa seguida. O único grupo dentro de eletrodomésticos no campo positivo é o de outros eletrodomésticos — formado por eletroportáteis como batedeiras e liquidificador, por exemplo —, com alta de 9,9%.

— O setor de eletrodomésticos vinha de um forte crescimento desde 2008. Com a melhora nos salários e no emprego, as pessoas foram às compras, apesar do juro elevado. Mas o setor começou a dar sinais de esgotamento no ano passado, e agora a tendência é claramente de enfraquecimento. Com endividamento das famílias e o mercado de trabalho afetado, o consumidor deixa de ir às compras — diz o economista da GO Associados Fabio Silveira.

Os números do IBGE refletem o dia a dia da realidade na indústria de bens de consumo duráveis no país. Na Esmaltec — que fabrica fogões, refrigeradores e máquinas de lavar roupa em Maracanaú, no Ceará —, foi preciso recorrer a cortes de despesas para se adequar ao novo momento, o que inclui demissões no primeiro trimestre do ano, cujo número total não é revelado.

— Entendemos que as medidas já implementadas na economia, e outras que ainda serão, afetaram e afetarão tanto o bolso do consumidor como a confiança dele, o que poderá afetar também o desejo de consumo. Além disso, a queda de emprego que já está acontecendo restringirá o consumo — afirma o gerente de marketing da Esmaltec, Marcelo Campos Pinto.

Fabio Silveira, da GO Associados, estima que o setor levará pelo menos um ano para reagir à crise. Ele lembra que as taxas do segmento tendem a ser maiores que a do PIB, seja no momento de alta ou de queda.

Números
6,6% de queda: Foi quanTo recuou a produção de móveis no primeiro trimestre

7,7% de retração: Na linha branca, que inclui geladeiras, condicionadores de ar, fogões e máquinas de lavar

36,2% de recuo: É o tombo na produção de eletrodomésticos da chamada linha marrom, sobretudo TV, devido à base elevada de comparação devido à Copa do Mundo no ano passado

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