domingo, 10 de maio de 2015

PT pede diálogo e ainda resiste a ajuste

• Partido diz que foi para o ‘sacrifício’ na aprovação da MP 665, que altera direitos trabalhistas, e reclama da pouca sintonia com o governo

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A votação no Congresso na semana passada da Medida Provisórias 665, que restringe o acesso a benefícios trabalhistas e integra o pacote do ajuste fiscal, evidenciou o descolamento entre governo e PT e a resistência dos petistas a aprovar as “medidas impopulares” do Planalto, o que deve dificultar também a votação da MP 664, que altera direitos previdenciários.

Após a aprovação da MP 665, parte da bancada petista reclama que “foi para o sacrifício” – o governo foi obrigado a “enquadrar” petistas por apoio à medida –, fala abertamente sobre a falta de sintonia com o Planalto e indica que a resistência às medidas do ajuste continua.

Integrante da Executiva Nacional do PT, o deputado Paulo Teixeira (SP) considera que, no atual momento, o PT está assumindo uma “nova postura” e precisa “ter voz” no governo. “Claro (que o governo e o PT são coisas distintas). Somos do partido do governo, mas nós queremos opinar nas decisões construídas pelo governo, elas têm que ser dialogadas conosco”, afirmou. “Nós estamos assumindo uma nova postura de diálogo com o governo.”

“O partido não é governo e o governo não é partido”, reclama o ex-presidente da Câmara Marco Maia (PT-RS).

Para petistas, derrotar o governo na MP 665 foi considerado “uma pá de cal” no governo Dilma Rousseff, que está com baixos índices de popularidade e sofre ataques de aliados no Congresso. E isso teria reflexos profundos ao PT nas eleições de 2016 e, sobretudo, na corrida presidencial de 2018, na qual o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem aparecido como eventual candidato.

Ex-presidente do PT e atual ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini diz que é preciso saber distinguir governo e PT. “A gente, quando está no governo, sem perder a referência do nosso partido, tem que lembrar que estamos cumprindo missões de governo. Em alguns momentos na Secretaria de Relações Institucionais, eu contrariei o PT, e olha que sou ex-presidente do partido”, afirmou. “Para nós, é sempre duro chegar para o PT e dizer que nesta votação a posição do governo não vai ser a do partido. Mas isso não tem a ver com tentativa de desassociar ou se afastar”, minimizou o ministro.

Agendas próprias. Em meio às discussões sobre o ajuste fiscal, o partido levou ao ar, na terça-feira, seu programa de rádio e TV sem a participação de Dilma. Na tentativa de explicar a ausência, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, afirmou: “O governo possui uma agenda própria, enquanto as questões de conjuntura enfrentadas pelo PT devem ser enfrentadas pelo PT”. “Misturar no cotidiano essas três instituições – um ex-presidente, um partido e um governo de coalizão – seria um erro”, disse.

Essa nova realidade destoa do momento festivo registrado em fevereiro, no aniversário de 35 anos do PT. “Nós estamos juntos e misturados”, afirmou Dilma na ocasião. Na festa, Lula também ressaltou a simbiose entre partido e governo. “O PT acaba de conquistar o quarto mandato consecutivo na Presidência da República. O PT será o partido mais longevo na história do País”, disse o ex-presidente.

Na época não tinham sido revelados nem a crise econômica em sua extensão nem o descompasso na articulação política. As investigações da Operação Lava Jato também não haviam atingido o ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, preso em abril.

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