sexta-feira, 26 de junho de 2015

Bernardo Mello Franco - A bomba não estava na praça

- Folha de S. Paulo

Na tarde desta quarta, a polícia isolou a praça dos Três Poderes por causa de três mochilas esquecidas em frente ao Planalto. O trânsito ficou caótico até o início da noite, quando a tropa concluiu que não havia risco de explosão. A bomba contra o governo estava do outro lado da rua, pronta para ser detonada no plenário da Câmara.

Em mais um rompante populista, os deputados estenderam a fórmula de aumento real do salário mínimo para todas as aposentadorias do INSS. Se fosse aplicada em 2015, a regra elevaria o gasto da Previdência em R$ 9,2 bilhões, segundo a equipe econômica. É outro golpe no esforço para reequilibrar as contas públicas.

O Titanic se aproxima perigosamente do iceberg, mas os parlamentares continuam a aproveitar a fragilidade do governo para posar de defensores dos velhinhos. A ordem é aprovar benesses, mesmo sabendo que não há dinheiro para pagá-las.

O ataque ao ajuste contou com o apoio do PSDB, que parece torcer pelo naufrágio como se não estivesse a bordo do mesmo navio. Os tucanos voltaram a recorrer ao "esqueçam o que escrevi", para desgosto de técnicos que participaram das medidas de estabilização do governo FHC.

"Uma coisa é criticar o ajuste, outra é elevar o gasto com as aposentadorias. Previdência é coisa séria, não dá para brincar assim. Isso vai gerar desequilíbrio estrutural e contraria o que a gente sempre defendeu", protesta a economista Elena Landau.

O apelo à coerência não conteve o furor explosivo dos tucanos. Com 44 votos, eles ajudaram a acender o pavio da nova bomba legislativa.

Um ministro de Dilma ficou abismado com a versão da Odebrecht para o bilhete em que seu presidente orienta a defesa a "destruir e-mail". Ao ouvir que o empreiteiro não teria a intenção de eliminar provas, ele deu uma gargalhada e soltou duas palavras de solidariedade --à defesa, não ao réu: "Advogado sofre..."

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