quinta-feira, 25 de junho de 2015

Demissões e 'lay-offs' afetam agora mineração e siderurgia

Danielle Nogueira – O Globo

• Vale dará férias coletivas a 170 funcionários. No ano, são 930 cortes

As demissões e o afastamento de trabalhadores que atingiram em cheio o setor automobilístico chegaram à área de mineração e siderurgia. Depois de a Gerdau deixar cem funcionários em Lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho) na unidade de Charqueadas, Região Metropolitana de Porto Alegre, ontem a Vale informou que colocará em férias coletivas 170 funcionários nos municípios de Brumadinho e Sarzedo, em Minas Gerais. A empresa vai paralisar usinas de tratamento de minério a seco, que operam com maior custo e material de menor qualidade. Entre janeiro e junho deste ano, a empresa demitiu ao menos 930 pessoas em Minas Gerais e Pará, seus dois principais polos produtores no país, segundo sindicatos.

Só este ano, o preço do minério de ferro acumula queda de 12%. E a Vale registra prejuízo há três trimestres. Para enfrentar essa situação, a empresa vai substituir este ano a produção de cerca de 22 milhões de toneladas de minério de ferro com menor qualidade e maior custo. Ou seja, vai paralisar minas menos competitivas e compensar com aumento da produção nas mais produtivas. Mas mantém a meta de 340 milhões de toneladas de minério de ferro para 2015.

As férias coletivas em Brumadinho e Sarzedo, de 30 dias, começam em 7 de julho. Segundo a Vale, o grupo representa menos de 1% dos empregados da companhia no estado. No Pará, 250 funcionários da mina de Serra Leste estão em férias coletivas desde o dia 18, devido a atraso na liberação de licença ambiental para ampliar a produção da mina.

As demissões preocupam os sindicatos. Em Carajás (PA), foram 680 desde o início do ano, segundo o Sindicato Metabase de Carajás. De acordo com seu presidente, Raimundo Amorim, em todo o ano de 2014 foram fechados 700 postos de trabalho na região. Em Brumadinho, foram 50. Em Itabira (MG) as demissões este ano (cerca de 200) ultrapassam a média histórica anual de 120 registrada na última década.

Desaceleração econômica
A Vale não comenta os números. Diz apenas que deve terminar 2015 com mais empregados do que em dezembro de 2014. Não é o que vem acontecendo. Segundo informações enviadas à Comissão de Valores Mobiliários, a Vale tinha 85.305 empregados diretos em 2012. No ano seguinte, recuou a 83.286 e, em 2014, caiu para 76.531.

A indústria siderúrgica também enfrenta grave crise. Levantamento do Instituto Aço Brasil mostra que, nos 12 meses encerrados em junho, houve 11.188 demissões e 1.397 contratos suspensos. Mais 3.955 funcionários devem ser dispensados este ano, estima o instituto. No fim de 2014, a indústria brasileira do aço tinha 122.139 empregados. O cenário levou ao adiamento de US$ 2 bilhões de investimentos, o que deixará de criar 7.194 vagas. Hoje, dois altos-fornos da Usiminas estão parados.

O presidente-executivo do Aço Brasil, Marco Polo, atribui a crise a fatores conjunturais, relacionados à desaceleração econômica do país, e estruturais, que têm relação com custos:

- Temos uma perda de competitividade sistêmica, com elementos como energia cara e carga tributária elevada.

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