quarta-feira, 24 de junho de 2015

Eliane Cantanhêde - Volume morto

- O Estado de S. Paulo

Nunca antes o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou tão cabalmente a máxima do senador Cristovam Buarque sobre ele: “Tudo o que é bom foi o Lula quem fez; tudo o que dá errado é culpa dos outros”. Valeu para o mensalão, vale para o petrolão, vai valer para os erros crassos do governo Dilma Rousseff.

Lula está coberto de razão no seu diagnóstico de que ele, o PT e Dilma estão no “volume morto” e quando diz que Dilma se distanciou dos pobres, não ouve ninguém e não dá bola nem mesmo para os seus próprios conselhos. E o que dizer da avaliação de Lula de que o PT perdeu a utopia, está velho, viciado em poder e só pensa em cargo, emprego e em vencer eleição? Alguém discorda?

Há, porém, alguns probleminhas nas declarações de Lula, que, faz tempo, já não está mais tão “paz e amor assim”. O principal deles é que ele, como disse brilhantemente Cristovam, ex-petista e ex-ministro da Educação demitido por telefone, sempre arranja um jeito de jogar a culpa nos outros, mas jamais assume sua parte nesse latifúndio de responsabilidades do seu partido, da sua pupila e do governo que patrocinou.

A culpa é sempre da imprensa, agora é também de Dilma e desabou sobre o lombo já curtido do PT. Mas e Lula? Está no “volume morto” só por causa dos outros? Não tem nenhuma culpa pela velhice precoce do PT? Também não se viciou em poder, tanto quanto o partido? E, afinal, Lula não tem responsabilidade nenhuma por ter escolhido Dilma para a Presidência, autocraticamente, contra tudo e contra todos – aliás, contra o próprio PT?

Outro probleminha é o “timing” das críticas a Dilma e ao partido. Lula desandou a falar todas essas verdades dias depois do congresso do PT em Salvador, aquele que ia fazer e acontecer e acabou não fazendo nem acontecendo. Antes do congresso, era uma braveza danada. Passamos semanas ouvindo e lendo que seria o mais importante da história, com grandes reviravoltas, e consta até que o ex-ministro e ex-governador Tarso Genro criou um bunker no Rio de Janeiro para dar as linhas intelectuais e preparar o ataque em Salvador.

Na hora “h”, porém, todos miaram e seguiram mansamente a tendência majoritária, que, olha só, é a mesma de Lula. Ele deixou as versões rolarem, ouviu tudo calado, fez lá o seu discurso obrigatório, mas bastou apagarem a última luz do congresso do partido para ele pregar... “uma revolução no PT”! Por que não falou isso no congresso? Não seria o fórum mais adequado?

Em Brasília, atordoada, a pergunta que não quer calar é por que, afinal, Lula decidiu botar a boca no trombone. Como está no “volume morto”, bateu o desespero? Ou ele pode estar exatamente como acusa o partido: sem utopia, viciado em poder, só pensando em cargo e na eleição (de 2018)?

No Planalto e na oposição, nos gabinetes de Dilma e de Aécio Neves, a percepção é a mesma: o objetivo óbvio de Lula é se descolar de Dilma. E não só dele. Em nota, os senadores do PT usaram 559 palavras derramando elogios à realmente admirável história de Lula, mas sabe quantas vezes citaram o nome de Dilma? Nenhuma! É cada um por si.

Aliás, os ministros Aloizio Mercadante, José Eduardo Cardozo, Ricardo Berzoini e Miguel Rossetto estão no pior dos mundos: vivem o dilúvio com Dilma, mas o espaço para eles na “arca de Noé” prometida por Lula é zero.

Propaganda enganosa. Aécio apresenta hoje projeto com normas de transparência e punições para a publicidade institucional da Administração Pública direta e indireta da União, Estados, DF e municípios. Para resumir, é contra a propaganda enganosa dos governos, que hoje mentem a rodo, citam números fabulosos e fica por isso mesmo. Vide eleição de 2014.

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