quinta-feira, 25 de junho de 2015

José Roberto de Toledo - Fim de ciclo

- O Estado de S. Paulo

O diagnóstico crítico de Lula sobre o PT é preciso. Recente pesquisa Datafolha encontrou só 11% de simpatizantes do partido, a menor taxa em décadas. Não é um ponto fora da curva, mas o fundo de um buraco que o PT cava – como confirmam pesquisas do Ibope – desde os protestos de 2013. Lula disse estar no volume morto. Não será fácil uma ressurreição.

Fosse só uma questão de simpatia, seria um problema, não uma crise. É mais do que isso. O PT perde filiados desde 2012. Não está sozinho nessa (o PMDB e o DEM, por exemplo, mínguam desde 2008), mas o que houve nos últimos três anos foi a inversão da tendência de crescimento que o partido experimentava desde a sua fundação. Não é pouca coisa. O PT passou a andar para trás.

Segundo levantamento do Estadão Dados, o auge de filiados ocorreu em 2012: 1,612 milhão. Caiu para 1,601 milhão em 2013, 1,592 milhão em 2014 e começou 2015 com 1,586 milhão. O que isso significa para o futuro do partido que governa o Brasil há 12 anos? Que a possibilidade de sofrer um retrocesso nas eleições municipais de 2016 não é pequena. E 2016 prepara 2018.

A perda de capilaridade petista é mais significativa do que o mau desempenho de Lula na pesquisa de intenção de voto do Datafolha. Uma é causa, a outra é consequência. Aécio Neves (PSDB) aparece à frente do ex-presidente porque seu nome está fresco na memória do eleitor. Fatura com o desgaste da imagem de Dilma Rousseff, que prometeu e não entregou, enquanto Lula paga pela sucessão de escândalos envolvendo o PT e pela perda de poder de compra dos emergentes que sustentaram sua ascensão.

Muitas dessas razões são conjunturais e dinâmicas. Mudam com o tempo. Tanto é assim que a acurácia das pesquisas eleitorais em qualquer lugar do mundo é inversamente proporcional ao tempo que a separa da eleição: quanto mais longe da urna, maior a chance de erro. Em meados de 1994, por exemplo, as pesquisas mostravam Lula eleito presidente. Veio o Plano Real, as expectativas econômicas mudaram e Fernando Henrique Cardoso virou FHC.

Se a questão fosse apenas econômica, Lula poderia ter esperança de recuperar parte de seu cacife eleitoral em tempo de disputar como favorito a sucessão de Dilma – caso o ajuste fiscal interrompa a alta da inflação e, mais à frente, crie condições para a retomada dos investimentos, do emprego e da renda. Mas a questão é estrutural e vai muito além do que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pode ou não fazer em dois anos e meio.

Menos filiados significa que o PT convenceu menos gente a entrar no partido do que perdeu militantes. Não só: a legenda segue com dificuldade para mobilizar sua base em um momento crucial. Isso implicará menos cabos eleitorais voluntários em uma eleição que será marcada pelo sumiço dos tradicionais financiadores de campanha (já que muitos deles estão presos pela Lava Jato).

Menos militantes, menos dinheiro para financiar candidatos e sem discurso. O PT não sabe o que dizer para o eleitor. A falta de uma narrativa que faça sentido e seja convincente está por trás das discussões públicas entre petistas. Sem rumo não há estratégia. E sem estratégia não se faz campanha eleitoral.

Datafolha e Ibope mostram que o PT envelheceu mal, perdendo simpatizantes entre os jovens. O problema não está só no eleitorado. Os petistas não renovaram suas lideranças. A geração perdida no mensalão não foi reposta. E o sebastianismo lulista não permitiu que novos nomes surgissem além dos dois Fernandos.

Ambos têm seus próprios problemas. Fernando Pimentel terá primeiro que se livrar da Polícia Federal e fazer um bom governo em Minas Gerais para aspirar a um papel nacional. E Fernando Haddad terá uma difícil reeleição pela frente em São Paulo.

Tudo isso aponta para o fim do ciclo de expansão petista. E, com ele, o contrafluxo das ideias que o PT tentou representar.

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