sexta-feira, 26 de junho de 2015

Mudança de discurso mostra disposição de salvar legenda

Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - Entre salvar o PT e salvar Dilma, a decisão do PT é salvar o PT. A convicção é de que o governo está perdido e é preciso salvar o legado, a narrativa do Partido dos Trabalhadores. O que dificulta o discurso do partido é querer se salvar e manter a aparência de que não permitirá "uma campanha de cerco e aniquilamento da presidente Dilma".

Seus dirigentes prometem ir às ruas para defender o mandato de Dilma. Mas a cada manifestação como a resolução que a Executiva Nacional divulgou ontem, pedindo mudanças imediatas nas metas de inflação e do superávit, o PT só alimenta a convicção dos aliados de que Dilma foi abandonada e entregue à própria sorte. Pela sigla e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma coisa não bate com a outra.

Segundo um ministro do PMDB, o ex-presidente Lula "enxerga na curva". Entendeu que precisava descolar para se preservar. Foram as críticas de Lula ao PT e à presidente que aceleraram o processo de desgaste de Dilma e recolocaram a palavra impeachment na ordem do dia. A presidente está isolada e - segundo os mais maliciosos - hoje tem o apoio apenas de Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça).

A menção aos dois não é obra do acaso. Após mais de ano de sucessivas fases Lava-Jato, o juiz Sergio Mouro decididamente estressou a classe política e Lula, particularmente. Não é à toa que a escalada de críticas do ex-presidente começou com a convocação de Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, para depor na CPI da Petrobras, e atingiu o clímax com a prisão dos donos da Odebrecht e da Andrade Gutierrez.

Atribui-se aos dois a distância que o governo vem mantendo das decisões de Moro, quando Lula - e não apenas ele - preferiria que o governo condenasse expressamente o que se considera excessos da Justiça, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal (vinculada a Cardozo) cometidos no âmbito da Operação Lava-Jato. O argumento é que ninguém aguenta mais uma fase da Lava-Jato. E que a Petrobras levará décadas para se recuperar e a Odebrecht não ganha licitação nem na África.

No mínimo, o que Lula quer é influir mais no governo, coisa que já antecipava desde antes das eleições. Alguns lulistas devem voltar ao governo, na área de comunicação da Presidência. Mas Dilma, segundo ministros, ainda tem cartas na manga. Se está ruim para a presidente, está pior para a classe política que quer tirá-la do cargo. Todas as forças estariam fracas para uma prevalecer sobre a outra. A menos que PT e PMDB se juntem. O PMDB também está dividido. Tirar Dilma significaria a posse de Michel Temer, que não é bem vista pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, onde as tertúlias agora contam também com a presença de raposas como José Sarney.

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