sexta-feira, 26 de junho de 2015

Roberto Freire - As ruas e as oposições

Diante do agravamento da crise e da degradação dos indicadores da economia, com aumento do desemprego, juros nas alturas e escalada da inflação, alguns movimentos sociais voltaram a convocar uma manifestação para o dia 16 de agosto contra o governo de Dilma Rousseff. Sob o mote de que o país não pode “pagar a conta do PT”, o protesto espera reunir não apenas os brasileiros insatisfeitos com o ajuste fiscal que penaliza os trabalhadores, mas todos aqueles que defendem a rigorosa apuração do escândalo do petrolão pela Operação Lava Jato, a punição dos culpados, a democracia e a liberdade.

A pouco menos de dois meses para que o país volte às ruas contra Dilma, Lula e o PT, é chegado o momento de as oposições fazerem uma reflexão sobre a importância de seu envolvimento em um ato que tem tudo para ser significativo e marcante. Mesmo com o natural arrefecimento das manifestações desde o primeiro grande protesto, em 15 de março, que levou mais de 1 milhão de pessoas à Avenida Paulista, em São Paulo, e quase 2 milhões em todo o Brasil, a presidente da República continua isolada, enfraquecida e é amplamente rejeitada pela maioria da população.

Segundo a última pesquisa divulgada pelo Datafolha, apenas 10% dos brasileiros aprovam a gestão petista – enquanto 65% a avaliam como ruim ou péssima. Trata-se da maior reprovação a um governo desde setembro de 1992, quando Fernando Collor alcançou uma taxa de desaprovação de 68% a poucos dias do impeachment. O mesmo levantamento apontou que a preferência do eleitorado pelo PT despencou de 29% para 11% em apenas dois anos, entre março de 2013 e maio deste ano, atingindo o índice mais baixo obtido pelo partido desde que o instituto começou a aferir a preferência partidária dos brasileiros.

Mesmo sem enfrentar uma grande manifestação de rua desde os protestos realizados em 12 de abril, que tiveram menor adesão que os de março, o governo Dilma seguiu derretendo junto à opinião pública graças ao recrudescimento das crises econômica e política, que se aprofundarão nos próximos meses. Neste momento crucial que pode determinar os destinos do país, é fundamental que as oposições brasileiras estejam sintonizadas com o sentimento majoritário da população expresso pela chamada “voz das ruas”. Não basta ouvi-la, é preciso fazer coro a ela.

Ao contrário do que se viu em 12 de abril, quando os protestos foram organizados à margem dos partidos, desta vez é preciso que as forças políticas que se opõem ao governo do PT atuem tal como fizeram naquele memorável 15 de março: em conjunto com os manifestantes, mobilizando os militantes e associando-se aos milhões de brasileiros que foram às ruas, o que contribuiu de forma decisiva para o êxito do movimento.

Encastelada no Palácio do Planalto, a presidente da República ainda conta com uma maioria parlamentar que a sustentaria no cargo caso fosse instaurado um processo de impeachment. Mas é evidente que tal cenário pode mudar diante dos novos acontecimentos. A Operação Lava Jato se aproxima do núcleo do poder, a insatisfação popular cresce e o relator do processo no TCU que analisa as contas do governo já indicou ser favorável a que elas sejam rejeitadas por causa da irresponsabilidade das criminosas “pedaladas fiscais”. Tudo isso traz um componente de indefinição quanto ao futuro de Dilma – a hipótese de que se chegue à ingovernabilidade existe e não é remota.

Este é o momento em que devemos estar todos juntos, a sociedade e os partidos políticos, unidos pelo desejo de resgatar a esperança no futuro do país. Mesmo que tenhamos eventuais divergências ou diferentes visões de mundo, temos a consciência de que só com um novo governo, mais decente e responsável, será possível virar a página da crise. Pela democracia, pela liberdade, por um novo Brasil, vamos às ruas!

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

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