quinta-feira, 11 de junho de 2015

Roberto Freire * - Da fantasia à realidade

- Blog do Noblat / O Globo

Enquanto Dilma Rousseff anunciava um novo pacote de privatizações, historicamente demonizadas pelo PT, e prometia investimentos faraônicos em obras de infraestrutura em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, os brasileiros recebiam mais uma má notícia sobre o estado de penúria em que se encontra a economia do país. Segundo levantamento do IBGE, a produção industrial registrou queda em 13 de 14 regiões pesquisadas em abril, o que representa o pior resultado desde dezembro de 2008.

Só em São Paulo, o maior parque industrial do Brasil, o recuo foi de 11,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Em média, a retração nacional foi de 7,6% na comparação com abril de 2014 e 1,2% ante março deste ano, alcançando o terceiro resultado negativo em sequência. No acumulado do ano até aqui, a queda é de 6,3% e, nos últimos 12 meses, de 4,8%.

Ao mesmo tempo em que Dilma afirmava que o mirabolante plano de privatizações “viraria a página” da crise, a última Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, que engloba as seis maiores regiões metropolitanas do país, apontava uma taxa de desocupação de 16,2% entre os jovens de até 24 anos no mês de abril. O percentual é duas vezes e meia maior que o índice geral de desemprego revelado pela PME (6,4%) e o dobro do resultado divulgado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (8%), mais abrangente.

O aprofundamento da crise econômica, com o aumento do desemprego e a queda vertiginosa da produção industrial, contrasta com a tentativa do governo de edulcorar a realidade e ludibriar a opinião pública por meio dos factoides mais variados. Seja passeando de bicicleta pelas redondezas do Palácio da Alvorada ou anunciando pacotes que não passam de cartas de intenção, Dilma pretende desviar o foco e fazer fumaça com uma agenda supostamente positiva. Como tática de propaganda, pode até ser eficaz, mas não é suficiente para convencer a sociedade de que o pior já passou.

Ao que tudo indica, ao contrário do que preveem os áulicos do PT, a recessão em que o país está mergulhado não arrefecerá tão cedo. A perversa conjugação entre inflação, retração econômica, desemprego e elevadas taxas de juros configura um cenário que, infelizmente, tende a se tornar ainda mais sombrio. Diante desse quadro, amplificado pela grave crise política e pelos desdobramentos do escândalo de corrupção na Petrobras, a hipótese do impeachment da presidente pode se concretizar caso a ingovernabilidade se instale.

A solução para os problemas do Brasil passa por um governo mais competente, responsável, transparente e cuja credibilidade não esteja irremediavelmente comprometida. Se Dilma deseja tirar o país do buraco e concluir seu mandato, não será apelando às peças de propaganda idealizadas pelo marqueteiro-chefe do Planalto que logrará seu intento. O abismo entre a fantasia petista e a dura realidade vivenciada pelos brasileiros é cada vez maior, quase do tamanho da incompetência de uma gestão desastrosa.

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* Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

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