sábado, 20 de junho de 2015

Tensão entre chavismo e oposição sobe após visita

• Governistas criticam, e MUD pede que Dilma quebre o silêncio

Janaína Figueiredo – O Globo

BUENOS AIRES - A meteórica visita dos senadores brasileiros a Caracas, na quinta-feira, aprofundou ainda mais o clima de tensão política que se vive no país. Deputados e dirigentes chavistas acusaram os parlamentares de serem "insolentes" e tentarem "interferir em assuntos internos da Venezuela"! Já a oposição responsabilizou o presidente Nicolás Maduro pelos ataques à delegação, e afirmou, através da Mesa de Unidade Democrática (MUD), que o governo da presidente Dilma Rousseff "não pode mais ficar em silêncio e deve pedir uma explicação ao Palácio de Miraflores".

Integrantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) na Assembleia Nacional (AN) repudiaram, duramente, a presença dos senadores brasileiros.

— Não tenho palavras para expressar a indignação que sentimos por esta atitude insolente — declarou o deputado chavista Christian Zerpa, da Comissão Permanente de Política Externa.

Segundo ele, "este grupo de senadores cometeu ingerência em assuntos internos da Venezuela".

— Eles já nos julgaram e acusaram de violar os direitos humanos — enfatizou o deputado.

Já o Defensor do Povo, Tarek Willian Saab, disse que (visitar a Venezuela) "já virou uma espécie de esporte ou hobby para políticos que não têm audiência em seus países"

— O povo já tirou suas próprias conclusões sobre estes opositores que difamam a Pátria — frisou o defensor chavista.

Para a MUD e familiares de presos políticos, a presença no país de visitantes estrangeiros tem sido fundamental para manter suas demandas presentes na agenda da comunidade internacional. Na última quinta-feira, os senadores foram acompanhados pelas mulheres do dirigente Leopoldo López, preso desde fevereiro de 2014 e há mais de três semanas em greve de fome, e do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, em regime de prisão domiciliar por problemas de saúde — Lilian Tintori e Mitzy Ledezma, respectivamente.

— Tudo foi planejado, não tenho dúvidas. E não entendo como a embaixada brasileira não protegeu seus senadores — comentou Mitzy, que estava no ônibus apedrejado por manifestantes chavistas. — Aqui ninguém atua sem ordem do governo. Nicolás Maduro é o grande responsável por esta vergonha.

"Brasil contra a parede"
Perguntada sobre as acusações de "ingerência" feitas pelo chavismo, Mitzy respondeu:

— E a presença dos cubanos aqui, o que é? Esperamos que a presidente do Brasil peça explicações oficialmente ao governo de Maduro sobre a humilhação a oito senadores de seu país.

Os ataques à comitiva levaram a MUD a cancelar uma reunião com os senadores, segundo confirmou o secretário-geral da aliança opositora, Jesus Torrealba. Ele afirmou que "o que aconteceu mostra a profunda deterioração da governabilidade"

— A região de Maiquetía, onde está o aeroporto, ficou isolada pelo bloqueio aos senadores e ninguém disse nada, quando temos presos políticos acusados de manifestar-se nas ruas — argumentou Torrealba.

O representante da MUD questionou a decisão da presidente Dilma Rousseff de receber recentemente o presidente da AN, Diosdado Cabello, por ser "uma figura muito questionada".

— A presidente deverá avaliar se o silêncio é uma opção. Não deveria ser — disse Torrealba.

Carlos Romero, professor da Universidade Central da Venezuela, afirma que o incidente "demonstrou até onde é capaz de chegar o chavismo":

— Esta situação coloca o governo brasileiro contra a parede, já que deveria responder diplomaticamente.

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