quarta-feira, 24 de junho de 2015

Vinicius Torres Freire - O rapa nas empresas e o PIB

- Folha de S. Paulo

• País se move, mas economia vai piorar um tanto mais com novas prisões e inquéritos

A cúpula das duas maiores empreiteiras do Brasil está presa. O crédito da Odebrecht foi rebaixado, tal como acontecera com o da Petrobras e o de outras empreiteiras da Lava Jato, embora a empresa esteja muito longe da ruína de suas irmãs menores. Executivos de montadoras, bancos e de grandes associações empresariais foram convocados para depor pela CPI que investiga suborno no "tribunal dos impostos", a CPI do Carf.

Ninguém sensato arriscaria estimar o efeito total desse rapa imenso no grande empresariado, ainda menos se considerada também a barafunda política e econômica mais geral. No entanto, é uma especulação razoável dizer o seguinte.

Primeiro, o crédito das empresas brasileiras, das empresas de construção em particular, vai ficar mais prejudicado, aqui e lá fora: mais caro, mais escasso. Vimos esse filme no ano passado, quando a Petrobras levava tiros na testa e o governo não se movia, aparentemente por não entender o que é descrédito e seu significado prático em finança. Não vai ser, claro, tão ruim como no vexame e na exposição das ruínas da petroleira. Mas vai ser ruim.

Segundo, vai haver ainda mais dúvidas sobre o pacote de concessões de obras de infraestrutura que o governo lançou faz duas semanas. O plano é cru, tem contradições (não integra as obras, várias delas sobrepostas), tem maluquices feito o trem do Peru e está à espera de projetos e garantias legais e regulatórias antes de ter jeito de ser implementado. Havia dúvidas sobre quais empreiteiras poderiam participar do negócio. Agora, complicou um tanto mais: quem estará apto, limpo, organizado ou capitalizado para atrair sócios (empresas menores ou do exterior)? Qual o dano geral de imagem do país?

Terceiro, a barafunda política pode aumentar ou ter ramificação nova; há o risco de "pegarem o Lula", tal como saliva a oposição, o que daria em tumulto. É especulativo, decerto, mas por que tanta gente e empresa graúda não reagiria, de alguma forma, à razia dos inquéritos?

Difícil que seja uma reação agressiva, que não pegaria bem, pois o brasileiro médio quer que algumas cabeças rolem. Pode aparecer uma tentativa de acordão, como o que vinha sendo costurado para permitir às empreiteiras participar das próximas concorrências do governo. Pode ser uma reação de retirada, de temor sobre o próprio destino e da imprevisibilidade das ações policiais e judiciais. O que mais está por vir?

O Eletrolão, rolos denunciados na Eletrobras, nem começou. O suborno no Carf estava com jeito de que iria minguar, mas há reações contra o juiz que tomava conta do caso e, embora as CPIs estejam cada vez mais avacalhadas, os inquéritos costumam desencapar fios elétricos. A Lava Jato já tem outras bombas, com delações armadas para explodir.

Quarto, as empresas da Lava Jato, decapitadas de suas lideranças e dedicadas a resolver rolos, tendem a ficar mais desorientadas, a perder negócios, a fechar menos contratos. A economia ruiu também devido ao dominó destrutivo que começou na paralisia da Petrobras, passou para suas obras, para estaleiros, para fornecedores das empresas associadas à petroleira e daí por diante.

Sim, o rapa no empresariado vai fazer a economia piorar um tanto mais.

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