terça-feira, 28 de julho de 2015

Cunha diz que PT está abaixo do ‘volume morto’

• Presidente da Câmara diz que rompeu com o governo ‘como reação a uma covardia’

Julianna Granjeia – O Globo

SÃO PAULO — O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), centrou suas críticas ao governo Dilma Rousseff e ao PT e disse que o partido, para a sociedade, está “abaixo do volume morto”. A declaração foi dada nesta segunda-feira em um almoço com empresários de São Paulo, e faz uma referência à declaração feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em junho em um reunião fechada e revelada pelo O GLOBO.

— Se a frase do ex-presidente Lula é de que o PT está no volume morto, acho que para a sociedade ele já baixou do volume morto. O que precisamos fazer é ver para o futuro. E o futuro passa por esse debate todo que estamos fazendo, que a gente possa construir soluções que esteja em consonância com a sociedade. E não fazer do congresso e do governo apenas uma pauta ideológica, corporativa e partidária — afirmou o presidente, que foi aplaudido.

Cunha também disse que a impopularidade do PT “consegue ser maior que a impopularidade de Dilma Rousseff“.

— Talvez, o PT tenha até arrastado a impopularidade dela mais para baixo do que poderia ser.

O presidente da Câmara também afirmou que seu rompimento político com o governo foi “reação a uma covardia” e voltou a afirmar que seu posicionamento é pessoal.

— Eu não costumo reagir colocando a cabeça debaixo do buraco. A história não reserva espaço para os covardes. Eles não vão impedir o meu livre exercício da liderança parlamentar. Fui vítima de uma violência com as digitais definidas. Não podia me acovardar e não reagir — disse Cunha, em referência a sua investigação na Operação Lava-Jato, por suspeita de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.

Questionado pelo presidente do grupo Lide, João Dória, sobre a quem pertenciam essas digitais, respondeu: - Basicamente, foi uma interferência do Poder Executivo, que todo mundo sabe que não me engole.

Cunha acusou ainda o governo de “estimular a criação de partidos artificiais para tumultuar”, referindo-se à recriação do PL com a ajuda do ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD).
Na entrevista coletiva, dada após o almoço, Cunha não respondeu os questionamentos sobre sua investigação na Lava-Jato e disse que foi orientado pelo seu advogado a não comentar o assunto.

Questionado sobre críticas de lideranças petistas no seminário estadual do PT de Minas Gerais, que ocorreu neste final de semana, Cunha rebate provocando dizendo que o partido poderia adotar a tese do impeachment de Dilma.

— Os mesmos princípios que eles têm para mim, eles devem ter para todos os os quadros deles que são por ventura investigados ou suspeitos de qualquer coisa. Se eles pedem qualquer tipo de coisa em relação a mim, deviam começar pedindo o afastamento de ministros e talvez discutindo o da própria presidente. Talvez eles possam aderir à tese do impeachment — ironizou.

Para ele, seu afastamento ser defendido por dirigentes petistas é motivo de satisfação, já que considera a sigla como adversária.

— O PT é meu adversário, todos já sabem. Se ele tem pedido a minha destituição, só me dá alegria. Se o PT defendesse minha permanência, talvez eu pudesse estar errado — disse Cunha, que não considera a hipótese de se afastar da presidência da Câmara durante as investigações da Lava-Jato.

O lobista Júlio Camargo disse em depoimento que Cunha teria pedido US$ 5 milhões em propina em um contrato de navios-sonda da Petrobras.

Impeachment
Cunha voltou a falar que um impeachment de um presidente da República não é um processo simples, mas disse que os que tiverem fundamento terão andamento na Casa.

— Os (pedidos de impeachment) que sanearem serão analisados sob a ótica jurídica. Os que tiverem fundamento terão acolhimento — disse o presidente da Câmara.

Ele também disse que sua posição sobre o assunto “não mudou uma vírgula” desde que o tema foi colocado em debate por grupos que promoveram manifestações e se reuniram diversas vezes com o presidente da Câmara.

— Impeachment não pode ser tratado como recurso eleitoral. Recurso eleitoral porque você não se satisfez com aquele que foi eleito não é a melhor maneira. Não podemos transforma o Brasil num republiqueta, que não é.

Cunha fez questão de detalhar o trâmite de um processo de impeachment no Congresso para os empresários convidados do Grupo Lide.

— O impeachment é uma decisão política. Não é um processo simples. Tem que ter base legal para isso. Vou tratar todos (os pedidos) de forma técnica.

Apesar de reconduzir o impeachment na agenda do segundo semestre da Casa, Cunha disse que seu papel é de “bombeiro” e não de “incendiário”.

— Não está no nosso horizonte fazer com que nosso país incendeie. Nesses dias difíceis, pode faltar incendiário, o que não pode faltar é bombeiro.

Crise econômica
Ainda em ataque ao governo, Cunha criticou o ajuste fiscal que, para ele, leva à retração da economia. Para ele, as crises política e econômica “vão perdurar por muito tempo” ainda e que “não é com esse ajuste que (a crise) vai melhorar”.

— Quanto mais se ajusta, mais cai a arrecadação e de mais ajuste é preciso.

O presidente da Câmara chamou, ainda, de medidas “pífias” do governo contra a crise e disse que o atual ambiente no país contribui para a queda no grau de investimento.

— O pior desastre é o Brasil perder o grau de investimento. Nada é tão ruim que não possa piorar.

O peemedebista também considerou “nula” a possibilidade de o país atingir a meta de superávit primário de 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

Ele declarou que depois do recesso de julho, colocará em pauta a reforma tributária. Os deputados, de acordo com o presidente, vão apreciar um texto elaborado por uma comissão especial que aglutinará várias propostas em tramitação na Câmara.

— Hoje, só tem três maneiras de fazer [a reforma tributária]: a União paga a conta, São Paulo perde dinheiro ou o contribuinte paga a conta. Temos de achar uma alternativa.

Protesto
Dez pessoas do movimento Juntos, formado pela juventude do PSOL, estão reunidos em frente ao hotel onde o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), participa no começo da tarde desta segunda-feira de um almoço com empresários.

Para Camila Souza, de 24 anos, representante do movimento, é “inadmissível” que um político investigado por corrupção continue presidindo a Câmara.

— As políticas defendidas por Cunha são contra a juventude. A redução da maioridade, as falas dele contra a mulher, contra o aborto e contra o movimento LGBT. Nós pedimos o afastamento imediato dele porque é inadmissível que um político com as acusações que ele enfrenta na Lava-Jato continue como presidente da Câmara — afirmou.

O Juntos acompanha Cunha em todas as suas agendas pelo país e estiveram nas manifestações contra o deputado federal dentro da Câmara no debate sobre a redução da maioridade penal.

Após o almoço, o presidente da Câmara tem encontro com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário