sexta-feira, 24 de julho de 2015

Em duro editorial, ‘Financial Times’ diz que Brasil parece um ‘filme de terror sem fim’

Fernando Nakagawa, correspondente, O Estado de S. Paulo

• Jornal britânico disse que a incompetência, arrogância e corrupção abalaram a magia do País e que, diante do risco de impeachment, tempos piores ainda podem estar por vir

• Título do editorial: 'Recessão e politicagem: a crescente podridão no Brasil'

LONDRES – O jornal Financial Times publicou um duro editorial sobre a crise política e econômica no Brasil. Com o título “Recessão e politicagem: a crescente podridão no Brasil”, o texto diz que a “incompetência, arrogância e corrupção abalaram a magia” do País. A publicação diz que os recentes fatos levam o Brasil a ser comparado com um “filme de terror sem fim” e que, diante do risco de impeachment da presidente Dilma Rousseff, “tempos piores ainda podem estar por vir”. O FT reconhece, porém, que as instituições brasileiras têm mostrado força e exalta a prisão de executivos das maiores construtoras brasileiras.

“Incompetência, arrogância e corrupção abalaram a magia do Brasil. Combinado com o fim do boom das commodities, tudo isso tem levado a oitava maior economia do mundo para uma recessão profunda. O escândalo de corrupção na Petrobrás só agrava a podridão. Mais de 50 políticos e dezenas de empresários estão sob investigação por terem levado US$ 2,1 bilhões em propinas. Luiz Inácio Lula da Silva foi indiciado sob a acusação de tráfico de influência. Há cada vez mais rumores de que a presidente Dilma Rousseff, no sétimo mês do segundo mandato, pode ser cassada. Isso ainda parece improvável, mas a probabilidade cresce a cada dia”, diz o editorial desta quinta-feira, 23, publicado na noite de ontem na internet. Diariamente, o FT publica na web os editoriais que serão veiculados na edição impressa do dia seguinte.

O editorial explica que dois motivos explicam a piora do quadro. Primeiro, o jornal cita a volta atrás de Dilma Rousseff na economia após a má sucedida experiência com a “nova matriz econômica”. Com o aumento dos juros e corte de gastos, a economia sofre e o apoio político dos aliados diminui, explica o jornal. “A maior razão, no entanto, é o escândalo de corrupção.

Embora ela tenha presidido o conselho da Petrobrás entre 2003 e 2010, poucos acreditam que Rousseff é realmente corrupta. Isso não significa, porém, que ela esteja segura. Dilma enfrenta acusações de que seu governo quebrou regras de financiamento de campanha e adulterou contas do governo, ambos motivos para impeachment.”

O editorial reconhece que, por enquanto, políticos brasileiros têm preferido que a presidente continue no poder. “Mas esse cálculo pode mudar à medida que eles tentam salvar suas peles”, cita o texto ao lembrar que o “chefe do Congresso” – sem citar o nome de Eduardo Cunha – migrou para a oposição e que Lula pode ser processado.

Diante do quadro, o FT diz que “não é à toa que o Brasil hoje tem sido comparado a um filme de terror sem fim”. O editorial diz que a presidente Dilma tende a ter “três anos solitários como presidente”. “Brasileiros são pragmáticos. Então, o pior cenário de um impeachment caótico pode ser evitado. Ainda assim, mercados começam a colocar no preço esse risco. Pode ser muito bem que tempos piores ainda estejam por vir para o Brasil”, completa o texto.

Apesar do tom pesado, o editorial reconhece que o escândalo de corrupção na Petrobrás tem “demonstrado a força das instituições democráticas do Brasil”. “Em um País onde os poderosos dizem estar acima da lei, Marcelo Odebrecht, chefe da maior empresa de construção do Brasil, está preso. Esta semana, três executivos da Camargo Corrêa, outra construtora, receberam sentença de mais de dez anos na prisão”, diz o editorial.

O texto lembra ainda que contratos de empreiteiras brasileiras estão sendo investigados em Portugal, países da América Latina e também podem ser alvo nos Estados Unidos, já que empresas como a Odebrecht têm títulos emitidos em Nova York. “Isso leva a políticos e líderes empresariais a pensarem duas vezes antes de pagar um suborno, o que é um grande avanço na luta da região contra a corrupção”.

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