quinta-feira, 9 de julho de 2015

Jarbas de Holanda - Salvação ou troca do governo. Negociações partidárias e as ruas

O segundo semestre começa e prosseguirá mais intensamente dominado pela combinação das crises econômica e política. A primeira, com as dimensões de uma estagflação de crescentes e perversos efeitos sociais. A segunda desdobrável em duas: a político-institucional, com a busca de alternativas ao atual Executivo ou, ainda, para uma reconstrução partidária dele, e com os conflitos entre a presidente e o Congresso acentuados pelos desdobramentos dos processos do TCU, do TSE (a respeito das “pedaladas fiscais” de 2014 e de irregularidades da campanha reeleitoral) e da operação Lava-Jato, bem como refletindo aumento da insatisfação social e mais quedas da avaliação popular da presidente; e a crise político-administrativa, decorrente de baixíssimo nível de governabilidade desse Executivo, com sérias implicações econômicas e sociais. Cabendo assinalar que essas crises deverão ter o reforço da retomada de manifestações de protesto, em escala possivelmente mais ampla.

Será nesse cenário que tais negociações político-partidárias ganharão fôlego. Os principais atores já estão em cena. O PMDB dividido entre o oposicionismo predominante nas bancadas federais do partido e o grupo liderado por Michel Temer, este podendo vir a desempenhar dois papeis – ou uma espécie de primeiro-ministro de uma titular da presidência extremamente debilitada, ou o substituto institucional da chefe do governo, após uma renúncia ou impeachment exclusivo dela. 

O PSDB que, na convenção nacional de domingo último, respaldou o posicionamento do presidente Aécio Neves em favor da troca de governo por meio de renúncia ou impeachment seguidos de novas eleições. Mas no qual há espaço para posturas voltadas para objetivos diferentes, e até contrários, assumidas por duas outras lideranças importantes – a do governador paulista Geraldo Alckmin, que não se centra na troca de governo mas na sua candidatura presidencial em 2018, e a do senador José Serra, aberto a uma composição com o “presidente substituto” Michel Temer e com o PMDB, pelo qual poderia disputar o Palácio do Planalto daqui a pouco mais de três anos. 

Outro ator de peso é o ex-presidente Lula. Que, sob a ameaça de envolvimento direto nas investigações da Lava-Jato, deixou de lado o projeto que ensaiava de descolamento da afilhada Dilma Rousseff, para tentar salvar o governo dela e recompor seu controle sobre ele, tendo em vista uma recuperação da economia que lhe permita construir uma candidatura competitiva em 2018 (apoiado numa “frente popular” esquerdista, pois sabe que não contará mais com a parceria do PMDB). Um quarto ator, ou atriz, a própria presidente, terá papel secundário nessas negociações em face do grande isolamento político e social em que está enredada.

 E há, ainda, um quinto fator com forte potencial de influenciar os diversos atores das negociações institucionais de respostas às crises econômica, política e ética que sufocam o país – as manifestações de rua já em preparo. As bandeiras, previsíveis, da retomada delas são o apoio à operação Lava-Jato (ao juiz Sérgio Moro, ao Ministério Público, à autonomia da Polícia Federal), e as cobranças de impeachment e de novas eleições.

Crise política enfraquece ajuste fiscal
Preocupação econômica significativa suscitada por reportagem da Folha de S. Paulo, de domingo: “Levy na geladeira”, com o subtítulo “Dilma demonstra impaciência e passa a questionar ministro em reuniões internas do governo”. Mudança de postura de Dilma Rousseff em relação ao ministro da Fazenda que deve refletir os efeitos das restrições e resistências do lulopetismo ao ajuste fiscal. 

Resistências que se tornam mais fortes com o agravamento da crise política, de riscos maiores para a continuidade do mandato da presidente. E às quais o ministro respondeu com entrevista ao Valor, de anteontem: “Levy pede persistência para país concluir travessia (Levy teme que incerteza paralise empresas e eleve custo do ajuste)”.

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Jarbas de Holanda é jornalista

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