quinta-feira, 9 de julho de 2015

Merval Pereira - O dilema do PSDB

- O Globo

O que demonstra que o país está sem liderança são as sucessivas derrotas do governo no Congresso, sem que haja possibilidade de reação num ambiente em que a base aliada era maioria esmagadora. Não adianta 11 partidos soltarem uma nota oficial de apoio ao governo, por sinal com palavras escolhidas com esmero para não ir além da conta, se esses partidos, na hora de votar, não apoiam o governo.

Ontem, mais uma vez, a base aliada foi derrotada no Senado, que aprovou a extensão da regra do aumento do salário mínimo para todos os aposentados. Mas essa barafunda que está instalada no Congresso leva também a oposição a assumir posições irresponsáveis, que necessariamente se voltarão contra ela se acaso chegar ao poder, mais adiante ou em 2018.

Essas incongruências oposicionistas, especialmente do PSDB, estão decepcionando muitos eleitores, que não aceitam a luta política como explicação para, por exemplo, o partido ter votado contra o fator previdenciário que ele mesmo criou.

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves, tenta explicar a posição do partido, mas não consegue revelar a racionalidade de muitas de suas atitudes. Em entrevista ao jornal mineiro "Em Tempo", ele concorda que o aumento do Judiciário aprovado pelo Senado por 62 a 0 é "absolutamente impagável", mas fica sem resposta minimamente razoável quando é lembrado que a oposição votou em peso a favor.

O senador Aécio Neves diz que essa votação - que, aliás, pode se repetir com o aumento dos servidores do Ministério Público na próxima semana - "é o retrato claro, do fim do governo", pelo fato de "a base de sustentação do governo, com o apoio do PT", ter permitido que o projeto fosse aprovado "por aclamação" na Câmara, na Comissão de Justiça e depois por unanimidade no plenário do Senado.

"Não houve um líder do governo para ir lá pedir vista do processo", completou. Aécio tenta justificar a oposição dizendo que ela votou "até de forma pedagógica" para mostrar que não existia mais governo, mas diz que agora o aumento tem que ser vetado por Dilma.

A situação esdrúxula em que se encontra o Congresso brasileiro, atirando para tudo quanto é lado sem que haja uma liderança que possa controlar o tiroteio, é demonstrada pelo presidente do PSDB: seria "muito curioso", diz ele, "a base governista votar a favor do reajuste e a oposição, contra".

Seria, realmente, comprar uma briga perdida com os servidores do Judiciário quando a base governista não teve condições políticas para negar o aumento. Mas se o PSDB quer retomar uma posição de prestígio num setor mais politizado da população, que nota suas contradições e não gosta, precisará reafirmar seu compromisso com o equilíbrio fiscal, pois esse será o ônus que carregará consigo para o Palácio do Planalto se voltar a governar o país.

De nada adianta o PSDB fingir que é possível buscar o equilíbrio perdido aprovando tantos aumentos de gastos, pois o máximo que conseguirá será ser acusado de um estelionato eleitoral igual ao que está colocando a presidente Dilma "no volume morto" da popularidade.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem defendido as posições mais equilibradas em seus pronunciamentos e artigos, mas ele não está disputando votos no dia a dia. Fazer política oposicionista no mesmo tom que o PT fez durante os 8 anos de governo tucano pode render, a curto prazo, um apoio da faixa do eleitorado que não tem mais paciência para este governo.

Mas o PSDB tem que pensar fora do imediatismo político, mesmo que a situação institucional do país possa sofrer uma mudança a curto prazo. Para ter credibilidade para aprovar um programa de reformas estruturantes que precisará ser implantado imediatamente em eventual troca de governo.
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Correção: O ano da renúncia de Richard Nixon do governo dos Estados Unidos é 1974, e não 1979 como escrevi ontem.

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