sábado, 25 de julho de 2015

Michel Zaidan Filho - Política externa e neo-pentecostalismo no Brasil

O seminário de avaliação do governo Dilma, promovido pelo Núcleo de estudos Eleitorais, Partidários e da Democracia, concluiu seu trabalhos com duas excelentes apresentações: a da Consul americana, Paloma Goncalez, sobre a política externa americana para o Brasil, e a do professor Felipe Galindo, sobre a influência das igrejas neo-pentecostais na política brasileira, hoje. Sob certos aspectos, ambas as exposições se complementaram, uma vez que a difusão dessas igrejas - tal como a chamada "teologia da prosperidade" - tem muito a ver com a influência americana no Brasil, desde o século dezenove; mais acentuada ainda com a crise do catolicismo romano e o acesso aos meios de comunicação.

A apresentação da encantadora figura da diplomacia norteamericana em Pernambuco, um misto de hispanicidade, arabismo e americanismo, bem temperado com uma cor de azeviche, procurou fazer um histórico das relações bilaterais entre o Brasil e os EEUUs., acentuando a proximidade entre os dois países, desde 1814, passando pelo doutrina Monroe e chegando até Obama e a visita da Dilma ao grande país norteamericano. Segundo a diplomata, Obama entende que não é mais possível ignorar o protagonismo continental e global do nosso país e que seria muito importante considerá-lo um parceiro estratégico nas alianças comerciais e geopolíticas, no Altântico Norte, hoje em dia. Disse também a hispano/árabe/americana que as pesquisas de opinião mostram que a maioria dos brasileiros amam os EE.UUs. e que se pudessem, viajavam ou iam morar lá. Afirmou também que a hegemonia americana, neste século da Globalização, é natural. Que o idioma ingles é uma especie de "passaword" da globalização, sobretudo para os melhores empregos e orportunidades. Conclui dizendo o que o 11 de setembro mudou radicalmente a política nortemamericana no mundo, criticou a invasão do Iraque, mas defendeu o direito de intervenção militar dos EE.UUs. - mesmo à revelia da comunidade internacional, dizendo que essa intervenção é sempre positiva, a favor da humanidade e dos direitos humanos.

Naturalmente, houve muita contestação dos presentes a esse admirável esforço de racionalização do unilateralismo norteamericano. Falou-se da ambiguidade do legado americano no mundo. A ação perniciosa da indústria cultural, das intervenções militares na América Latina, a favor das Ditaduras, de Guatânamo, Cuba, China e Rússia. Questionou-se que tipo de imperialismo era bom e o que era mau. Levantaram-se dúvidas sobre as reais intenções da amável acolhida de Obama à recente visita da Dilma, depois das revelações sobre a espionagem do Pentágono sobre as comunicações. E sobre o que teria o Brasil a ganhar com essa aproximação. A consul procurou responder - com a franqueza possível - a essas interrogações. E prometeu voltar, para novos debates.

Mais instigante foi, com certeza, a exposição do professor Felipe Galindo, autor de um livro pioneiro sobre o movimento trotskista em Pernambuco (a morte de Jeremias). O apresentador trouxe uma bem documentada apresentação sobre a expansão religiosa e política das igrejas neopetencostais ( Assembleia de Deus, A igreja Universal, A Igreja do Bispo Hernadez, a Igreja de Waldemiro Santiago etc. Seus partidos políticos (PPB, PP, PSC), seus parlamentares (75 deputados), sobre a fortuna de seus líderes, segundo a revista FORBES, suas articulações no Congresso Nacional e a agenda legislativa desse grupo: homofobia, criminalização da juventude, intolerância religiosa, ódio, vigança e preconceito. A exposição de Felipe foi fartamente ilustrada com imagens e frases colhidas de líderes e representantes dessas igrejas. E cuminou com a imagem de uma celebração religiosa no recinto da Câmara dos Deputados, com a entonação de hinos e ritos religiosos, numa clara afronta ao caráter laico das instituições políticas brasileiras. Disse também o expositor que se trata de uma articulação política conservadora e que põe em risco as conquistas democráticas das minorias, na perspectiva da ampliação dos direitos e da efetivação de políticas públicas multiculturais. Finalizou, advertindo que as esquerdas têm pouco sensibilidade para a defesa dessas bandeiras, quando resumem tudo nas lutas redistributivas. Mas que é preciso chamar a atenção da sociedade para o risco que representa essa articulação político-religiosa para a manutenção e o avanço de uma política pública laica no Brasil.

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Michel Zaidan é professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

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