sexta-feira, 17 de julho de 2015

Roberto Freire - Convescote às escondidas

O desassombro com que o PT atenta contra as instituições republicanas simboliza à perfeição esses tristes tempos em que vivemos. Como se já não bastasse ter protagonizado os maiores escândalos de corrupção da história do país, como o mensalão e o petrolão, o governo petista não se cansa de demonstrar seu absoluto descaso em relação à independência entre os poderes, como revelou o recente encontro às escondidas entre Dilma Rousseff e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski.

Segundo o jornalista Gerson Camarotti, ambos se reuniram secretamente no último dia 7 de julho, em um luxuoso hotel na longínqua cidade do Porto, em Portugal, ao lado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com a desculpa esfarrapada de que tratariam do projeto que reajusta em até 78% os salários dos servidores do Judiciário. Seguindo o padrão moral básico dos governos lulopetistas, tudo foi feito na surdina, sem a transparência e a retidão moral exigidas pelos cargos que ocupam os chefes dos Poderes Executivo e Judiciário.

Não há nada que justifique o convescote secreto do outro lado do Oceano Atlântico, um verdadeiro escárnio, um deboche contra as instituições e a sociedade brasileira. Bastaria que Lewandowski atravessasse a Praça dos Três Poderes e percorresse os pouco mais de 500 metros que separam o Supremo Tribunal Federal do Palácio do Planalto para se reunir com Dilma às claras e tratar do projeto de lei aprovado pelo Senado na última semana. Imaginar que este foi o tema do encontro entre ambos é de uma ingenuidade tão gritante quanto o nível de degradação a que chegaram as relações institucionais entre os chefes de dois Poderes da República.

Acuada em meio às incômodas revelações de quase duas dezenas de delatores no âmbito da Operação Lava Jato, que aproximam cada vez mais o gabinete presidencial do epicentro do petrolão, Dilma Rousseff é hoje uma presidente enfraquecida e sem credibilidade junto à população. Para agravar sua situação, o Tribunal de Contas de União pode emitir um parecer em que recomende a rejeição contas do governo federal em decorrência da prática criminosa das “pedaladas fiscais”, o que abriria caminho para a abertura de um processo de impeachment de Dilma no Congresso Nacional.

Em outra frente, os R$ 7,5 milhões que o empreiteiro apontado como o chefe do cartel que assaltou a Petrobras disse ter desviado para os cofres da campanha da petista à reeleição podem levar à cassação de seu mandato pelo Tribunal Superior Eleitoral e, neste caso, a decisão fatalmente seria contestada por meio de um recurso ao Supremo presidido por Lewandowski. Esse pano de fundo, evidentemente, parece muito mais verossímil como provável assunto abordado no encontro às escondidas em Portugal do que o reajuste dos salários dos servidores do Judiciário, principalmente quando se trata da total falta de escrúpulos do PT no intuito de se perpetuar no poder, mesmo que para tanto tenha de atropelar a Justiça e as instituições democráticas.

Em 13 anos de governo, o legado mais perverso da gestão petista talvez tenha sido o acentuado processo de degradação moral e degeneração das instituições da República, vilipendiadas como nunca antes neste país – para usar expressão que agrada Lula. A falta de decoro, o comportamento antiético e imoral sob todos os aspectos, a corrupção sistêmica e a crença de que é possível enganar a todos durante todo o tempo são algumas das características mais marcantes de um regime que já se esgotou e caminha para o fim. O indecente e antirrepublicano convescote em Portugal é mais um capítulo de um governo manchado pela corrupção e de uma época em que falta grandeza moral e impera a desfaçatez.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

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