sexta-feira, 3 de julho de 2015

Roberto Freire - A mancha do petrolão no Planalto

A cada dia, aumentam a indignação e o estarrecimento dos brasileiros, que assistem à degradação moral de um governo cada vez mais contaminado pela corrupção. Acuada por novas denúncias que a ligam ao epicentro do petrolão, Dilma Rousseff não tem mais como recorrer à surrada bravata lulopetista de que não sabia de nada. A mancha do maior escândalo da história republicana subiu a rampa e escancarou as portas do Palácio do Planalto.

As revelações feitas por Ricardo Pessoa, apontado pelas investigações como o “chefe do clube das empreiteiras” beneficiadas pelo assalto à Petrobras durante os governos de Lula e Dilma, dão conta de um repasse criminoso de R$ 7,5 milhões para a campanha da presidente em 2014. Segundo o delator, esse valor teria sido desviado dos cofres da estatal para abastecer o caixa da campanha de Dilma a pedido do então tesoureiro, Edinho Silva, hoje ministro. Ele teria ameaçado o empresário de perder seus contratos com a Petrobras caso não houvesse o repasse do dinheiro sujo.

Em seu depoimento ao Ministério Público, o empreiteiro também citou a campanha de Lula à reeleição, em 2006, que teria recebido R$ 2,4 milhões desviados da Petrobras, o que revela a ligação umbilical entre o ex-presidente e o esquema desbaratado pela Operação Lava Jato. Apesar de agora tentar se descolar do governo Dilma e até do PT, Lula se vê acossado por denúncias que se acumulam e para as quais ainda não apresentou uma justificativa minimamente razoável.

À imagem e semelhança de seu mentor político, a presidente da República não convence os brasileiros ao tentar explicar o inexplicável. Questionada sobre as denúncias demolidoras que ligam sua campanha à corrupção na Petrobras, Dilma cometeu a estultice de comparar o depoimento do empreiteiro às delações obtidas na ditadura militar, sob tortura e por meio da mais sórdida violação aos direitos humanos. Evidentemente, trata-se apenas de mais um comentário delirante que se soma à série infindável de reflexões presidenciais desprovidas de qualquer encadeamento lógico ou bom senso.

O instituto da delação premiada, estabelecido por lei em plena vigência do regime democrático, não tem qualquer semelhança com o que se via no Brasil durante o regime de exceção, quando presos políticos eram forçados, sob a mais cruel violência, a dar informações sobre suas organizações e seus companheiros. Ao afirmar tamanho disparate, a presidente da República ataca o trabalho sério da Polícia Federal e do Ministério Público, além de desrespeitar a lei - pois atenta contra o bom funcionamento do Judiciário, o que configura crime de responsabilidade. Uma declaração infeliz como essa mostra o quanto Dilma está descompensada em meio a um cenário tão adverso, enredada por graves denúncias de corrupção, rejeitada pela ampla maioria da população brasileira e abandonada por seu próprio partido e por Lula.

Diante de tudo o que já se descobriu sobre o assalto à Petrobras e com o avanço das investigações, o cerco se fecha. As oposições, que cumprem à risca seu papel institucional, vêm atuando em várias frentes contra o desmantelo do lulopetismo. Há uma representação junto à Procuradoria-Geral da República contra Dilma e Edinho Silva por crime de extorsão; o Tribunal de Contas da União já foi instado a investigar se o governo continuou, em 2015, a praticar as criminosas “pedaladas fiscais” verificadas em 2014 e que estão sob investigação da corte; e ainda foi pedido o compartilhamento do conteúdo do depoimento bombástico de Ricardo Pessoa com o Tribunal Superior Eleitoral.

O país, infelizmente, caminha de forma célere rumo à ingovernabilidade. Envolvido até a medula em escândalos de corrupção, o governo perdeu a capacidade de articulação no Congresso e não conta com o apoio dos brasileiros, que sentem os efeitos de uma dramática crise econômica. O impeachment não é fruto do mero desejo de quem quer que seja, mas pode se impor como solução democrática e constitucional para a crise. Nenhum país suporta ficar à deriva, sem comando, sem governo, e as oposições e todos aqueles que têm espírito público devem enfrentar esse debate. A mancha do petrolão sujou as mãos do governo do PT, de Lula e de Dilma.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

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