sábado, 4 de julho de 2015

Sérgio C. Buarque - Apertem os cintos!

Revista Será?

O governo sumiu.E não tem ninguém a bordo desta nave descontrolada com capacidade para pilotar e conduzir o Brasil a um vôo seguro para o futuro. Turbulências sacodem e desestabilizam o país e o empurram em vôo cego para o abismo. Exagero? Não, lamentavelmente, não é exagero. Com apenas 10% de aprovação da população, borrifada com gotas grossas da Operação da Lava Jato (cada vez mais perto do Planalto), e fustigada pelos próprios aliados, a Presidente perdeu completamente a governabilidade. No meio do furacão da crise econômica – inflação em alta e desemprego crescente – os políticos da base governista de todos os matizes começam a preparar o desembarque.

O ex-presidente Lula, seu padrinho político e eleitoral, estaria organizando um novo partido de esquerda (qual esquerda, companheiro?) para fugir das amarras de um partido fragmentado e contaminado, como se o PT não fosse ele próprio. O próprio PT critica a presidente e resiste à aprovação das medidas de ajuste fiscal, indispensáveis para tirar o Brasil do atoleiro em que eles mesmos o empurraram. O PMDB, maior base de sustentação do governo, prepara o rompimento com a Presidente para se livrar do fracasso, do qual obviamente é corresponsável, e se lançar solo na busca do poder. O poder! É tudo o que eles desejam sem preocupação com o Brasil e nenhuma ideia sobre a estratégia para o desenvolvimento nacional.

E a oposição? Parte da oposição, de forma oportunista, rejeitou as propostas de ajuste fiscal do governo, ajuste que iria fazer se tivessem ganhado as eleições. O que esperar dela neste momento de crise e na condução das mudanças econômicas, sociais e institucionais que o Brasil demanda para o futuro? Ao que se comenta, o ex-governador e senador José Serra negocia a filiação ao PMDB para ser o candidato a presidente por este pro-partido, já que o PSDB não entregaria a ele o bastão da disputa eleitoral. Cheiro forte de naftalina no ar. O que sobra? Alguns poucos políticos sérios perdidos no plenário e insignificantes partidos, a maioria deles orientados pelo negócio de aluguel da legenda e interesses escusos e pessoais; ou a bancada evangélica, cuja política se limita à reação piegas e insana às mudanças de costumes na sociedade.

O Brasil não aguenta mais três anos e meio sem governo e não pode esperar pelas eleições de 2018. Pior, o que se imagina que pode mudar com estas eleições? Lula, de novo? Serra candidato do PMDB? Vote! Diria minha avó. O que parece certo é que a presidente Dilma Rousseff não tem a menor condição de recuperar a governabilidade, a confiança da sociedade e o apoio político no Congresso com o PT ressabiado e o PMDB fustigando. Nem que invente mais dez ministérios, incluindo o Ministério da Mandioca. O impeachment é a saída? Não.

Embora seja cada vez mais provável, o impeachment não é uma solução (nem sequer uma rima), faltam alternativas de governabilidade de parte da oposição e dos ratos de porão que estão abandonando o barco. E se o presente é este buraco negro, o que pensar do futuro, sem uma condução séria e competente da desnorteada nave Brasil? Talvez uma esperança: que os poucos políticos que pensam o Brasil e não apenas no poder (são muito poucos) se juntem, discutam e formulem um chamado à Nação, fugindo da mesmice que domina este país e apresentando um caminho para o Brasil diante da crise do presente e dos desafios do futuro.

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