segunda-feira, 6 de julho de 2015

Troca de partido cresce entre senadores

Vandson Lima - Valor Econômico

BRASÍLIA - A decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a regra da fidelidade partidária não se aplica a mandatos majoritários desencadeou no Senado mais de uma dezena de negociações de parlamentares para trocar de legenda.

De malas prontas para o PMDB, o ex-governador do Mato Grosso, senador Blairo Maggi, que está no PR, puxa a fila dos que se viram livres para seguir outro rumo político. "No meu caso, não tenho pretensão de voltar a ser governador, nada disso. Vou para o PMDB porque quero um partido sem dono, maior, com mais influência nas grandes questões nacionais", diz. O dono do PR ao qual Maggi se refere é Valdemar Costa Neto, ex-deputado federal condenado no escândalo do mensalão.

As pretensões do PMDB de ter candidatura própria a presidente nas eleições de 2018 são levadas em conta pelo senador. Ele se diz ciente do burburinho corrente na cúpula da sigla que aponta José Serra (PSDB-SP) como candidato ideal na disputa pelo Palácio do Planalto.

"Tem vários nomes no PMDB que seriam fortes, mas é claro que uma ida do Serra coloca a conversa em outro patamar. Aumenta muito a chance de vencer. Sou totalmente favorável", atesta. Uma eventual migração de Serra, no entanto, é vista como um movimento a ser feito mais adiante.

O PMDB, diz Maggi, não desistiu ainda de filiar Marta Suplicy ao partido, em que pese a iminente ida da senadora ao PSB.

O partido, aliás, é o mais ativo nas negociações no Salão Azul, por onde transitam os senadores entre seus gabinetes, a Câmara e o plenário da Casa: além de Marta, o PSB já acertou a adesão da ex-tucana Lúcia Vânia (GO) e negocia com pelos menos mais três nomes: Alvaro Dias (PSDB), rompido com o correligionário e governador do Paraná, Beto Richa; e dois senadores considerados as "noivas" mais disputadas do parlamento: os petistas Paulo Paim (RS) e Walter Pinheiro (BA). Insatisfeitos com o rumo da política econômica tocado pelo governo Dilma, os senadores, ambos filiados ao PT há aproximadamente três décadas, avaliam as ofertas de desembarque.

Paim recebeu convites de praticamente todas as legendas, inclusive do PSDB, feito pessoalmente pelo presidente do partido, Aécio Neves (MG). Diz que sua propensão é aceitar o desafio em uma sigla nova, como a Rede, da presidenciável Marina Silva, mas não descarta o PSB.

"Conversei com a Marina e claro que me atrai a possibilidade de construir um partido com outra proposta, outras prioridades" diz. "Minhas diferenças são principalmente com o governo Dilma, mas também com o PT, que deveria se pautar por levar o governo para outro caminho que não esse, de ajuste fiscal nas costas do trabalhador somado a distribuição de cargos", avalia.

Pinheiro é outro cujas sondagens não cessam. Do PSD, do também senador baiano Otto Alencar, ao PRB, foram vários convites. Até o PTB, de Fernando Collor, procurou-o. Caso deixe o PT, o que só deve ocorrer a partir de 2016, o caminho natural seria o PSB.

Presidente do PSB, Carlos Siqueira vislumbra que a sigla, que conta com seis senadores e agregará mais duas com Lúcia Vânia e Marta, pode chegar a uma dezena. "Nosso partido tem um espaço a ocupar nesse momento da vida política brasileira. Fomos atrás de alguns senadores com bandeiras do nosso gosto, mas temos sido até mais procurados do que estamos procurando", garante.

Além dos nomes citados, Siqueira diz que há outros, mas que "se determinadas conversas forem a público, atrapalham a negociação".

Potencial candidato à Prefeitura do Rio em 2016, Marcelo Crivella é sondado no PDT, partido mais estruturado para a disputa na cidade que o seu PRB. No entanto, a garantia do presidente do PRB, Marcos Pereira, de que lhe dará legenda para concorrer no próximo ano esfriou as negociações.

Presidente do PSDB, Aécio tem atuado fortemente nos bastidores para angariar nomes e tentar fazer dos tucanos a segunda maior força da Casa. Hoje o PT tem 13 senadores e o PSDB, 11. O PMDB segue como o maior partido do Senado, com 17 cadeiras - 18, a contar a ida de Blairo.

Foram sondados recentemente pelo partido, além de Paim, Ana Amélia (PP-RS), Ricardo Ferraço (PMDB-ES), Reguffe (PDT-DF) e Eduardo Amorim (PSC-SE). Só está acertada a transferência deste último, no fim do ano, por conta de compromissos assumidos no Estado com a sua atual sigla. A mudança na correlação de forças no Senado, no entanto, não altera a regra de proporcionalidade na distribuição de espaços nas comissões da Casa.

De acordo com o artigo 78 do regimento interno, em seu parágrafo único, para fins de proporcionalidade, as representações partidárias são fixadas na diplomação, no início da legislatura, salvo nos casos de posterior criação, fusão ou incorporação de partidos.


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