domingo, 5 de julho de 2015

Tucanos apostam no desgaste de Dilma para voltar ao poder

• Crise alimenta ambições presidenciais de Aécio, Alckmin e Serra e estimula conversas com o PMDB

• Senador mineiro diz a aliados que duvida de recuperação de Dilma; para Serra, presidente não concluirá mandato

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Quando as luzes do painel de votação do Senado se acenderam, Aécio Neves (PSDB-MG) virou-se para o colega de bancada Cassio Cunha Lima (PB). "Pode fazer uma foto", disse cochichando. "Esse é o retrato de um governo que está no fim."

Foi na última terça (30), logo após o Senado aprovar um reajuste salarial de mais de 70% para os servidores do Judiciário, por 62 votos a zero, impondo uma derrota humilhante ao Palácio do Planalto.

O discurso público é mais ameno. "A presidente, a cada dia, vem perdendo as condições de governabilidade", disse Aécio à Folha. "À crise econômica se soma uma crise social, e a cada dia eles vivem o imponderável da Lava Jato."

Segundo pesquisa feita pelo Datafolha em junho, o senador mineiro teria 35% das intenções de voto se uma nova eleição presidencial fosse realizada hoje, e largaria na frente do ex-presidente Lula.

Aécio não é o único tucano que vê Dilma numa situação limite. Numa conversa recente com aliados, o senador José Serra (SP) disse não acreditar numa recuperação do governo e apostou que Dilma não concluirá seu mandato.

"Há uma combinação rara de crises que se auto-alimentam", afirmou. "Na política, a tempestade não se dá apenas no Congresso, mas dentro do PT. É o governo mais fraco de que tenho memória. Perto dele, a gestão Jango parece ter tido uma solidez de granito", concluiu.

Serra tem conversado sobre a situação com o PMDB, o partido do vice-presidente Michel Temer, seu amigo. Líderes peemedebistas também tratam do assunto com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que exerce papel moderador dentro de seu partido. FHC esteve recentemente com o senador Romero Jucá (PMDB-RR).

Paralisia
Um desfecho repentino para a crise, com a renúncia ou o afastamento de Dilma, frustraria as ambições do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que se apresenta ao partido como uma alternativa para a eleição de 2018.

O paulista vem travando com Aécio uma disputa por protagonismo na legenda e sabe que, se o governo Dilma afundar antes do fim de seu mandato, as chances de ser o próximo candidato dos tucanos à Presidência da República no lugar de Aécio seriam praticamente inexistentes.

Alckmin tem conversado com parlamentares, governadores e prefeitos de outras legendas. Os relatos sobre a paralisia do setor público que tem ouvido lhe parecem alarmantes. Ele está preocupado com os efeitos da crise econômica em São Paulo, que ameaça reduzir a arrecadação do Estado em mais de R$ 500 milhões.

Alckmin defende a tese de que seu partido não deve apostar na estratégia de desgastar Dilma e o PT a qualquer custo. A posição mais moderada tem a ver com o cálculo que ele faz sobre seu futuro político. "Se ela cair, o Planalto cai no colo do Aécio", diz um integrante do primeiro escalão do governo estadual.

Depois da derrota de Aécio no ano passado, os tucanos moveram uma ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para pedir a cassação de Dilma e Temer por abuso de poder econômico e político durante a campanha eleitoral.

O processo pode criar uma situação delicada. Se Dilma for cassada, o TSE poderá convocar novas eleições ou dar posse a Aécio, o segundo colocado na última eleição. O senador se recusa a falar sobre esse cenário publicamente, mas, a aliados, rechaçou a segunda hipótese. Disse que apenas uma nova eleição daria a um novo governo a legitimidade necessária.

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