terça-feira, 4 de agosto de 2015

Delator: R$ 10 milhões foram entregues ao PT

• Milton Pascowitch, operador e delator da Lava-Jato, diz ter dado propina ao partido entre 2009 e 2011

Sérgio Roxo, Thiago Herdy e Tiago Dantas – O Globo

SÃO PAULO - O operador Milton Pascowitch, um dos delatores da Operação Lava-Jato, disse à Justiça que entregou ao menos R$ 10,5 milhões de propina em dinheiro vivo na sede do PT, em São Paulo. O delator contou que, entre 2009 e 2011, levou R$ 10 milhões em espécie ao local para pagar propina referente a um contrato que a construtora Engevix havia assinado com a Petrobras. Outros R$ 532 mil foram deixados na sede do partido em novembro de 2011 como parte de um contrato da empreiteira com o governo federal para a realização de obras na Usina Hidrelétrica de Belo Monte.

Em depoimento prestado à Justiça por meio de seu acordo de delação premiada, Pascowitch falou sobre um contrato da Engevix com a Petrobras para construir cascos de oito plataformas de perfuração do pré-sal no estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Um dos donos da empreiteira, Gerson Almada, já havia dito à Justiça que o negócio tinha girado cerca de US$ 2,4 bilhões e que Pascowitch teria ficado com US$ 120 milhões para pagar propinas.

O operador declarou, por sua vez, que R$ 14 milhões deveriam ir para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. Destes recursos, "foram feitos pagamentos da ordem de R$ 10 milhões em espécie na sede do PT em São Paulo", afirma o Ministério Público Federal (MPF) no documento que deu início às investigações que levaram o ex-ministro José Dirceu a ter a prisão decretada ontem. Outra propina paga em dinheiro vivo teria a ver com um contrato da Engevix com o governo federal para construção de Belo Monte.

O pagamento de propinas na construção da usina hidrelétrica, orçada em R$ 29,9 bilhões, já havia sido citado pelo ex-presidente da Camargo Correa Dalton Avancini. Ele disse que a empreiteira se comprometeu a pagar R$ 20 milhões ao PMDB pelas obras.

Os procuradores juntaram às provas o cruzamento de ligações telefônicas entre Vaccari e Pascowitch para justificar a relação próxima entre os dois. Parte dos telefonemas foi feita pelo ex-tesoureiro a partir de telefone da sede do PT, num prédio no Centro de São Paulo. O documento foi utilizado pelo MPF para justificar o pedido de prisão de Dirceu.

Nem toda a propina destinada ao PT era paga em dinheiro vivo, segundo Pascowitch. Os repasses ilícitos também chegavam ao partido por meio de contratos de consultoria simulados com outras empresas, como a de informática Consist, a Editora 247 e a Gomes e Gomes Produção de Eventos. O operador disse que esses serviços não foram prestados.

A Engevix informou que está prestando os esclarecimentos à Justiça.

Prisão de Dirceu: como "assunto pessoal"
O PT afirmou que "refuta as acusações de que teria realizado operações financeiras ilegais ou participado de qualquer esquema de corrupção". "Todas as doações feitas ao PT ocorreram estritamente dentro da legalidade, por meio de transferências bancárias, e foram posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral", afirma nota assinada pelo presidente do partido, Rui Falcão. O petista não quis comentar a prisão do ex-ministro José Dirceu, alegando não ter conhecimento dos autos do processo. Questionado sobre o impacto político, disse que o assunto será discutido em reunião da Executiva do PT hoje.

A ordem no partido é tratar a prisão de Dirceu como assunto pessoal do ex-ministro, relativo a suas atividades de consultor, sem ligação com sua militância partidária. Não haverá por parte da cúpula petista uma defesa pública, o que deve contribuir para o isolamento de Dirceu.

O programa de TV do PT, que será exibido na quinta-feira, não tratará do tema. Serão mantidas as falas, já gravadas, da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula. Os dirigentes esperam panelaço durante a exibição, mas não acreditam que a prisão de Dirceu possa inflar as manifestações, já que o ex-ministro já tem uma imagem desgastada.

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