- O Estado de S. Paulo
Nem os mais próximos, leais e encantados aliados do ex-presidente Luiz Inácio da Silva acreditam na disposição dele de se candidatar à Presidência em 2018.
Para eles, a manifestação de sexta-feira – “se for preciso serei candidato” – decorre da necessidade de manter no ar uma “peteca” que de fato está no chão.
Tomemos a ideia de recriação da CPMF. Poderia ser entendida como balão de ensaio, caso fosse possível entender o que estaria sendo ensaiado por seus idealizadores, identificar qual o motivo do experimento. Há algumas possibilidades.
Testar a paciência geral da Nação seria uma. Submeter à prova a tolerância do público pagante a certos abusos, outra hipótese. Pura provocação ou a já notória ausência de noção da realidade também. O mais provável, porém, é que o governo esteja exercitando sua inesgotável vocação de atravessar a rua para pisar, e escorregar, na casca de banana.
Note-se que não se trata de um imposto qualquer nem da justificativa mais aceitável: o fechamento das contas públicas para corrigir os atentados cometidos contra o Orçamento da União. A CPMF foi aquele imposto cuja extinção impôs ao então presidente Luiz Inácio da Silva a maior, mais contundente e incontestável derrota no Congresso. Isso em 2007, com Lula no apogeu da força política.
O que leva o governo a pensar que agora, quando firma residência no fundo do poço, teria alguma chance de êxito é uma incógnita. Custa a crer que alguém no Planalto imagine que, uma vez anunciada a intenção de cortar ministérios e “enxugar” parcela ínfima dos mais de 22 mil cargos em confiança, estaria na posse de salvo conduto para descarregar sobre a sociedade a contrapartida na forma de mordida.
O anúncio se deu dias depois de o governo ter conseguido receber manifestações de apoio de importantes empresários. Caso não tenha percebido, se der prosseguimento à ideia de ressuscitar um imposto-símbolo do repúdio ao peso da carga tributária, Dilma Rousseff estará assinando um contrato de perdas e danos – sem ganhos – com todos os setores do empresariado (comércio, indústria e serviços). Além de alimentar a fogueira onde queima seus últimos resquícios de aprovação.
Mais uma vez esteve presente em medidas anunciadas para enfrentar a crise a marca da improvisação, da inconsistência e do voluntarismo à deriva que leva a ações desprovidas da medição de consequências. Duas evidências: a discordância do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, de que essa seria a melhor solução e a saia justa do vice-presidente, Michel Temer.
Depois de dizer na manhã de quinta-feira que a volta da CPMF era fruto de “burburinhos”, Temer teve de ouvir à tarde o ministro da Saúde confirmar a notícia, anunciado o envio da proposta ao Congresso já amanhã. Ou seja, foi devida e explicitamente passado para trás. Para usar expressão do ex-presidente Lula, levou uma “bola nas costas”.
Prejuízo para ele? Muito maior para a presidente que, assim, demonstrou o grau interno de desacerto. Mais: de descompromisso com a reorganização da base parlamentar, também pega de surpresa. Nesses termos, o diálogo a que a presidente se propõe e em favor do qual tem procurado mostrar interesse, tende ao fracasso.
Incrível é que Dilma não saiba disso e ainda acredite que propondo dividir a arrecadação com Estados e Municípios possa forçar as bancadas no Congresso a ceder aos apelos de governadores e prefeitos. Estes não votam nem estão nas ruas se manifestando. Para deputados e senadores, o que conta é a opinião do público. Contrária a arcar com prejuízos pelos quais não foi responsável.
A CPMF é um imposto que atinge mais os ricos. Pobre faz poucas movimentações financeiras. Por isso esse imposto foi revogado ainda no mandato de Lula. É o que se espera de 400 achacadores (Viva Cid Gomes).
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