sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Lava- Jato mira no Planejamento e investiga escritórios de advocacia

• Entre eles, o que atuou na campanha da senadora Gleisi Hoffmann; ex- vereador do PT foi preso

A 18 ª fase da Lava- Jato identificou no Ministério do Planejamento desdobramentos do esquema de corrupção que funcionava na Petrobras. Um exvereador do PT foi preso, ontem, acusado de distribuir R$ 40 milhões em propinas. A empresa de software Consist usava escritórios de advocacia para distribuir propinas. Em troca, foi beneficiada em um acordo do ministério com entidades bancárias para atuar na área de crédito consignado. Um dos escritórios do esquema atuou na campanha da senadora Gleisi Hoffmann, mulher do ex- ministro do Planejamento Paulo Bernardo.

Thais Skodowski, Cleide Carvalho, Germano Oliveira e Tiago Dantas - O Globo

CURITIBA e SÃO PAULO - A Polícia Federal prendeu ontem o ex- vereador do PT Alexandre Correa de Oliveira Romano, na 18 ª fase da Operação Lava- Jato. Romano é acusado de ter arrecadado e distribuído cerca de R$ 40 milhões em propina num esquema envolvendo o Ministério do Planejamento e a empresa Consist para liberação de empréstimos consignados. Segundo a PF, escritórios de advocacia foram usados para intermediar repasses ilegais que somaram R$ 52 milhões. Desse total, R$ 12 milhões passaram pelas mãos de Milton Pascowitch, lobista acusado de repassar propinas para o ex- ministro José Dirceu.

O esquema envolvendo o Planejamento e a Consit, revelado pelo GLOBO no último dia 1 º , surpreendeu o Ministério Público Federal, pois a propina foi paga até o mês passado. Ontem, em entrevista coletiva, os procuradores da força- tarefa detalharam a operação. Uma dos escritórios, Guilherme Gonçalves & Sacha Reck Advogados, recebeu R$ 7,2 milhões do esquema coordenado por Romano e prestou serviço para as campanhas eleitorais do PT e da senadora Gleisi Hoffmann. Dados do Tribunal Superior Eleitoral mostram que o escritório também prestou serviço para outros partidos em eleições passadas.

— Já lidamos com empresas de fachada, de publicidade e consultoria. Agora aparecem as empresas de advocacia — disse Igor Romário de Paula, delegado da PF.

Presidente da Consist delata Romano
Para receber a propina, Romano usou notas fiscais de 18 empresas das mais variadas áreas, incluindo os escritórios de advocacia. Advogado, Romano foi vereador em Americana ( SP) e presidiu o comitê municipal de finanças do PT no município durante as eleições de 2004. É ainda um dos sócios do escritório Oliveira Romano Sociedade de Advogados, que recebeu R$ 7,9 milhões da Consist entre 2010 e julho de 2015.

— Chama a atenção o fato de que o pagamento de propina ocorreu até o mês passado, o que traduz uma crença absoluta na impunidade — disse o procurador Roberson Henrique Pozzobon.

A atuação de Romano foi revelada à PF pelo próprio presidente da Consist, Pablo Kipersmit, preso na 17 ª fase da Lava- Jato e libertado anteontem. Segundo ele, Romano foi a “pessoa chave” nas negociações com o Ministério do Planejamento, que permitiram à Consist lucrar com o acesso a consignados do funcionalismo federal.

O escritório de Guilherme Gonçalves atuou nas campanhas da senadora Gleisi Hoffmann ( PT- PR) entre 2008 e 2014 e representou o diretório regional do PT no Paraná. A senadora é investigada pelo Supremo por ter recebido, segundo o doleiro Alberto Youssef, R$ 1 milhão do esquema de fraudes na Petrobras. Em nota, Gonçalves alegou ter prestado assessoria jurídica para a Consist. Gleisi respondeu, também em nota, que desconhece as relações comerciais do advogado.

Outra empresa que recebeu a pedido de Romano foi a CRLS Consultoria e Eventos, que pertence a Carlos Cortegoso, empresário de São Bernardo do Campo ( SP) e ligado ao PT: R$ 309 mil, pagos em 2010. Cortegoso é responsável pela gráfica Focal, que recebeu R$ 24 milhões da última campanha da presidente Dilma. Procurado, Cortegoso disse que precisaria checar os contratos antes de se pronunciar.

Na avaliação do juiz Sérgio Moro, é possível concluir com base nas declarações de Pascowitch que Romano o antecedeu no esquema de distribuição da propina. Pascowitch contou que foi chamado a operar o esquema por João Vaccari, ex- tesoureiro do PT, pois, segundo ele, Romano não pagava o que devia ao partido. Disse ainda que o dinheiro ia para o PT.

Ontem, o Planejamento anunciou a rescisão do acordo com o Sindicato Nacional das Entidades Abertas de Previdência Complementar ( SINAPP) e a Associação Brasileira de Bancos ( ABBC). Em nota, o ministério, negou relação direta com a Consist. “Não há relação entre o Ministério do Planejamento e a empresa Consist, uma vez que o Acordo Técnico de Cooperação foi firmado entre o MP e as entidades SINAPP e ABBC”. Informou ainda que abriu sindicância para apurar eventuais desvios de servidores da instituição.

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