sábado, 8 de agosto de 2015

Merval Pereira - Sem saída fácil

- O Globo

A partir da premissa de que 2015 ficará marcado pelo colapso de um ciclo econômico e político, o economista Claudio Porto, presidente da consultoria Macroplan, especializada em estratégia e cenários futuros, traçou três cenários para o 2º governo Dilma - Colapso, UTI e Recuperação. Todos, rigorosamente, apontam para conjunturas difíceis, sendo que o cenário de colapso, do qual trataremos amanhã, é o mais provável.

Para a Macroplan, há razões de sobra para o pessimismo no curto prazo: o quadro econômico recessivo ainda não surtiu todos os seus efeitos, o ajuste fiscal está “desidratando”, e a situação política tende a ir ladeira abaixo. A perda do grau de investimento do Brasil ainda este ano é dada como praticamente certa. Boa parte dos investimentos estruturadores está comprometida com o escândalo envolvendo empreiteiras na operação Lava-Jato. “E esse foi apenas mais um baque para um país que já vinha investindo muito pouco nos últimos anos”, complementa Porto.

Não deixa de ser surpreendente a intensidade e a velocidade do desgaste do segundo mandato de Dilma Roussef, comenta Claudio Porto. Para ele, este fenômeno decorre da conjugação de três forças que operam na mesma direção - as duas primeiras de caráter objetivo: (1) a degradação da situação econômica - com piora generalizada dos principais indicadores econômicos - produção, emprego, renda, inflação, investimento; (2) a evolução da operação "lava jato", que mudou de patamar e de capacidade de impacto ao começar a prender e punir grandes empresários e avançar no indiciamento de políticos poderosos (até agora quase 500 pessoas e empresas foram investigadas e 120 prisões preventivas ou temporárias ocorreram - das quais 35 pessoas ainda permanecem na cadeia); e (3) a perda de confiança, agindo como "fio condutor" do atual cenário de crise enfrentado pelo governo.

A deterioração das expectativas dos agentes econômicos e da sociedade está refletida no Índice de Confiança do Consumidor que teve queda de 44,6%, entre janeiro e julho de 2015 - e a confiança do empresário industrial que tem trajetória de queda constante, chegou a 27,6 (o índice varia de 0 a 100).

O cenário batizado de “UTI” configura uma agonia prolongada da economia e do governo - lembrando o período Sarney – e tem alguma probabilidade de ocorrer: aponta para altos e baixos no ajuste fiscal; crescimento econômico entre -2% (2015) e + 2% (2018) e expectativas de inflação sempre em torno de 6,5% ao ano a partir de 2017, com estagnação do emprego e renda.

Neste cenário a impopularidade da presidente fica mantida em patamares altos e também mantém-se em baixa a confiança no governo e no seu partido, com consequente fragmentação da base de sustentação parlamentar, que opera na base do “toma lá dá cá”.

A operação “Lava-jato” tem efeitos amplos, mas não chega a atingir a pessoa da presidente. Este seria o pior cenário para o País, do ponto de vista econômico e social, pois significará a consumação de outra “década perdida”.

Outro cenário antecipa uma ‘recuperação progressiva do Governo Dilma’ na economia e na política que, na melhor das hipóteses, somente ocorrerá a partir de meados de 2016, com declínio da inflação, recuperação parcial do emprego e renda (a partir de 2017) e da popularidade da presidente que, no entanto, dificilmente chegará a níveis parecidos aos do primeiro mandato.

A operação “Lava-jato” neste cenário tem efeitos limitados e diluídos no tempo. Este, contudo, é hoje o cenário mais improvável na avaliação dos especialistas da Macroplan. (Amanhã, o colapso)

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