terça-feira, 18 de agosto de 2015

Renúncia de Dilma seria um 'gesto de grandeza', diz FHC

• População considera governo ilegítimo, afirma ex-presidente; Planalto quer quebrar o 'clima de pessimismo'

FHC diz que renúncia seria 'ato de grandeza' de Dilma

• Ex-presidente endurece com petista um dia após protestos pelo impeachment

• Tucano sugere que Aécio e Alckmin alinhem discurso sobre a crise e parem de atirar em direções opostas

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Um dia depois de milhares de manifestantes ocuparem as ruas das maiores cidades do país para pedir o impeachment de Dilma Rousseff, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a renúncia seria um "gesto de grandeza" da presidente e fez um esforço para alinhar o discurso dos líderes tucanos.

"Se a própria presidente não for capaz do gesto de grandeza (renúncia ou a voz franca de que errou e sabe apontar os caminhos da recuperação nacional), assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lava Jato", disse FHC, em mensagem publicada nesta segunda (17) na sua página no Facebook.

O texto é o mais duro recado já enviado a Dilma pelo líder tucano e representa uma tentativa de aproximar o PSDB do sentimento expresso nas ruas. Segundo o Datafolha, 66% dos brasileiros são favoráveis à abertura de um processo de impeachment, para que a presidente seja processada e julgada no Senado.

Pouco depois de divulgar sua mensagem nas redes sociais, FHC reuniu em seu apartamento, em São Paulo, os dois líderes que despontam como opções do PSDB para a próxima eleição presidencial: o senador mineiro Aécio Neves e o governador paulista, Geraldo Alckmin.

De acordo com relatos feitos à Folha, Fernando Henrique fez uma análise do cenário político e disse que o partido deveria falar a mesma língua ao discutir as alternativas para o país sair da crise. Na semana passada, FHC já havia conversado sobre o assunto com outro líder tucano, o senador José Serra (SP).

Há duas semanas, aliados de Aécio defenderam a renúncia de Dilma e do vice-presidente Michel Temer e a realização de nova eleição. Alckmin tem sido cauteloso sobre a possibilidade de impeachment agora, quando ele não teria condições de deixar o governo para disputar com Aécio a indicação do PSDB e se candidatar à Presidência.

Logo após o encontro de FHC com Aécio e Alckmin, o senador Aloysio Nunes (SP), que foi vice na chapa do PSDB na eleição presidencial de 2014, subiu à tribuna do Senado e disse que, se um pedido de impeachment fosse submetido hoje ao plenário da Câmara, os tucanos votariam pelo afastamento de Dilma.

Tucanos interpretaram a fala de Aloysio, que continua muito próximo a Aécio, como um recuo do discurso adotado anteriormente por aliados do mineiro, que defendiam a realização de nova eleição.

'Ilegítimo'
Na mensagem divulgada nesta segunda, FHC disse que as manifestações de domingo (16) mostraram que a população vê o governo como "ilegítimo". Citando o boneco do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário levado às ruas em Brasília, o tucano disse que a "base moral" do governo foi "corroída pelas falcatruas do lulopetismo".

Para FHC, "a presidente, mesmo que pessoalmente possa se salvaguardar, sofre contaminação dos malfeitos de seu patrono, perdendo condições de governar".

Fernando Henrique também condenou os "conchavos de cúpula", que, a esta altura, só contribuem para aumentar "a reação popular negativa e não devolvem legitimidade ao governo, a aceitação de seu direito de conduzir".

A frase foi vista como uma referência ao aceno que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez em direção ao Planalto na semana passada, ao sugerir a adoção de uma agenda de reformas econômicas para evitar o aprofundamento da crise.

O Palácio do Planalto foi surpreendido com a mudança de tom de Fernando Henrique, que, até agora, preferia adotar um discurso conciliador ao tratar da situação do governo. Nos bastidores, a avaliação foi que a oposição quer se associar ao espírito das ruas e se afastar do movimento de aproximação com o governo liderado por Renan.

Colaboraram Mariana Haubert e Marina Dias, de Brasília

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