sábado, 29 de agosto de 2015

Rombo de R$ 10 bi leva contas públicas ao pior julho desde 2001

• Com PIB fraco, União, estados, municípios e estatais gastam mais do que arrecadam

Gabriela Valente - O Globo

As contas do setor público tiveram um rombo de R$ 10 bilhões em julho, o pior desempenho para o mês desde que os dados começaram a ser registrados, em 2001. Segundo o Banco Central (BC), além da União, estados, municípios e empresas estatais também tiveram déficit — ou seja, gastaram mais do que arrecadaram e não conseguiram poupar para o pagamento dos juros da dívida.

— Éo resultado de uma economia fraca e em recessão. Todos viram o resultado do PIB (Produto Interno Bruto). Uma economia com o desempenho menor se traduz em menor desempenho fiscal — frisou o chefe-adjunto do departamento econômico do BC, Fernando Rocha.

Somente no mês passado, as despesas com juros chegaram a R$ 62,8 bilhões. É o maior gasto já registrado em meses de julho.

— O resultado está impactado pelos gastos com swap cambial. Em julho, o gasto chegou a R$ 23,9 bilhões — disse Rocha.

As despesas com os chamados contratos de swap cambial — instrumentos de intervenção que funcionam como venda de moeda americana no mercado futuro — aumentaram desde que o BC retomou a política de irrigação do mercado, apelidada de “ração diária”. Desde 2002, o BC tem colocado contratos desse tipo no mercado para oferecer hedge, ou seja, proteção para a oscilação da moeda americana.

Juros já chegam a R$ 288,6 bilhões
De janeiro a julho, o peso dos juros foi muito maior: R$ 288,6 bilhões. Além de ser um recorde, o montante está próximo do que deveria ser pago em todo o ano passado: R$ 311,5 bilhões. Como em 2014, o setor público não tem a menor condição de arcar com essa fatura agora. E o endividamento vai aumentar.

Nos sete primeiros meses do ano, as contas públicas tiveram superávit primário de R$ 6,2 bilhões, bem abaixo da meta do ano, que é economizar 0,15% do PIB. Nos últimos 12 meses, o déficit primário chega a R$ 51 bilhões.

O chamado déficit nominal (que inclui a conta de juros) chegou a R$ 505,8 bilhões. Isso representa nada menos que 8,81% do PIB: nunca o país teve um rombo desse tamanho, de acordo com o BC.

A relação entre a dívida e o PIB caiu de 34,6% para 34,2% em julho por causa da valorização do dólar. Quando a moeda americana fica mais cara, as reservas crescem. Em compensação, a dívida bruta deu um salto de 63,2% do PIB para 64,6% do PIB. São nada menos que R$ 3,68 trilhões em endividamento.

Para Alex Agostini, economista- chefe da Austin Rating, todo o mercado e as agências de classificação de risco já esperavam um resultado ruim. Ele lembra que a equipe econômica deve ter até o segundo trimestre de 2016 para uma reclassificação geral da nota de risco das grandes agências internacionais. Enquanto isso, além de cortar gastos, Agostini acredita que o governo terá de aumentar tributos para fechar as contas:

— Não adianta falar de CPMF porque ela não vai existir. Não vai passar no Congresso. Tem uma ala do PT que não quer que isso aconteça. Daí, a Fazenda vai ter de aumentar outros tipos de impostos e torcer para a economia melhorar no ano que vem.

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