sábado, 22 de agosto de 2015

Sob pressão do PMDB, Temer deixará posto de articulador

• Vice-presidente quer se afastar de negociação de cargos e verbas com partidos aliados, o que preocupa o Planalto

Temer decide deixar articulação política

• Vice-presidente quer se afastar de negociação de cargos e verbas com partidos aliados, o que preocupa o Planalto

• Peemedebista sofre pressões do partido para sair e diz a aliados estar farto de disputas com ministros petistas

Mônica Bergamo, Andréia Sadi, Natuza Nery, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer (PMDB) decidiu deixar a articulação política do governo com o Congresso, afastando-se da negociação de cargos e verbas com os partidos políticos que dão sustentação ao Palácio do Planalto.

"Eu não posso ficar o tempo todo cuidando do cotidiano da política e de articulações específicas", afirmou Temer a um aliado nesta sexta-feira (21). Ele disse que pretende continuar "na articulação macropolítica, das grandes políticas de Estado".

O vice deverá colocar o cargo à disposição da presidente Dilma Rousseff na semana que vem. Será a segunda vez que faz isso neste mês. A primeira foi há duas semanas, quando a presidente pediu que continuasse na função.

Temer tem sido pressionado pelo PMDB a deixar a articulação política e tem revelado cansaço com as disputas com ministros do PT que também têm atuado como articuladores políticos do governo.

Prevendo que encontrará resistência de Dilma novamente, Temer deverá propor sair da linha de frente aos poucos: deixar primeiro a responsabilidade pela distribuição de cargos e verbas para emendas parlamentares, principal foco de tensão com o Congresso e, depois, se afastar por completo das negociações com o Legislativo.

O problema é que a relação do PMDB com o núcleo palaciano se deteriorou e o partido quer desembarcar da articulação de uma vez e entregá-la de volta ao PT. Uma ala também pressiona para que o PMDB vá além e rompa de vez com o governo.

Procurada, a assessoria de Temer disse que o "vice presidente é o único senhor do momento de permanecer ou sair da articulação politica".

Diante da deterioração no relacionamento de Temer com o Planalto, assessores do vice repetiram considerar a missão do chefe "cumprida" na articulação política e que é hora de deixar a função.

A saída do vice acentuará o pessimismo sobre as condições do Planalto de superar a crise política. Temendo interpretações assim, o governo jogará pesado para mantê-lo no posto. "Temos de reverter esta situação para evitar a piora da crise política", disse um assessor de Dilma.

Bombeiro
Temer foi alçado à condição de bombeiro do governo em abril, quando a presidente deu a ele a função de articulador político do Planalto. Mas logo o vice começou a ser pressionado pelos aliados a se afastar da tarefa.

Há duas semanas, Michel Temer assustou o governo ao declarar que "alguém" precisava reunificar o país. A fala foi interpretada como uma tentativa do vice de se colocar como alternativa a Dilma.

Depois desse episódio, o núcleo palaciano e a presidente apostaram em Renan Calheiros (PMDB-AL) como interlocutor no Congresso. Combinado ao movimento, Dilma e seus auxiliares passaram a se reunir com parlamentares sem comunicação prévia a Temer e seus aliados.

A operação irritou a cúpula peemedebista e fez crescer a pressão para Temer deixar a articulação. Os principais defensores do desembarque são os ex-ministros Moreira Franco e Geddel Vieira Lima e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Em conversa com Temer nesta sexta, Cunha fez um apelo para que o próximo congresso do PMDB, marcado para novembro, seja antecipado para que seja discutido o rompimento com o governo.

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